sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um "eu" que não é seu


Techo do livro "O segredo de Eva"
de Adriana Vargas de Aguiar

Trancada em mim; olho pela fechadura... Há murmúrios... Existem pedaços de saudades dilaceradas por todos os cantos da casa.
Gostaria que fosse diferente; sentir saudade não me conforta a frase bem feita – “é bom; é sinal de que um dia esteve perto.” Ridícula frase em plena angústia... Eu não queria estar longe; nem perto; queria estar dentro de ti.
Perdi a chave que me traria a oportunidade da plenitude. Apaixonar-me foi um descuido natural; eu nunca me importei com algum calendário; hoje os dias é um desafio lento; é a contagem regressiva de quantos minutos passei sem ti.
Quem sou eu? Em becos tão subvertidos de meu ser? Mereço aplausos por ter conseguido fugir de ti e me trancado em paredes com texturas pontiagudas? Ou mereço um lenço de puro linho para aconchegar minhas lágrimas em um lugar honroso? Sou os meus defeitos, que tão facilmente tomam o controle de minha vida, regendo-me, mesmo quando não se há percepção da realidade... Defeitos que ficava tão bem em mim; antes de ti... Acolhiam-me na soberba de uma auto-suficiência relevante... Eu não precisava de ninguém; meu defeito salvava-me pelo gorro, hoje me estrangula; deixei a passividade reter os contos de fábula; eu não sabia admitir que sonhava com os príncipes encantados...
Estou em estado de submersão cega de meu acervo sentimental - desespero dos aflitos! Rendida ao que me faz, tranquilamente perder o controle de minha generosidade. Se voltar sorrindo, com aqueles lábios que ainda amo, não lhe negarei um grama de qualquer afago que venha sair de minha boca. Sinto dores de desejo por teus lábios; o corpo se comprime em áreas latejantes; é como se eu gostasse de sentir o efeito de ti em minha carne... Dói! Não sondo nenhum resquício de importância em sua tão elegante indiferença, sentada em uma poltrona confortável enquanto todas as dores do mundo acontecessem lá fora.
Observo a fúria de sua vaidade... Vem cantando, desfazendo-se do bom senso... Não se importa se o tanta faz, tem ligação com o tanto fez, quer apenas que se cumpra seus desejos defeituosos, impulsionando a marcha dos que se criam a partir dos seus efeitos. Você caminha por entre as pessoas, respingando nelas, sem que percebam, o orgulho que rosna, tem cheiro de grandeza, jamais me deixaria perceber que tens coração...
Causa-me mal estar fitar aquilo que em ti é desagradável... Tenho vontade de te roubar, como fazia em tempos de criança nas mangueiras carregadas de fruta no quintal alheio. Roubar-te-ia de teu orgulho, e o lavaria em meu tanque sujo e descuidado; um dia ele me serviriria para algo, mesmo que desse algo, fosse apenas útil, as obras póstumas que velaria em teu nome
Como se possível fosse, queria ao menos o pudor para imaginar que sou isenta dos resultados dos meus atos - ação e reação a tudo que posto no mundo das idéias. Sou exatamente o que vivo, sinto e faço; e nada mais...
Imaginava que a miséria humana existisse apenas nas calçadas; nos casebres de chão a pique; no prato vazio; no choro fino e sombrio de um menino etiópico. Vejo-me com o coração feito a um prato esmaltado, que aumenta a sua profundeza a ponto de olhar em mim, e não vejo a ti; não se encontra no mísero grão de arroz ofertado por teus carinhos que de ausentes fez do dia um domingo inconsolável de despedida... Tem um anjo triste dentro de mim.
Chorar sem mudar, é como pedir apenas alívio e continuar do meu jeito; é a falta de humanidade para comigo mesma; que não quero me olhar... Não! Dói! Minto para mim - "eu não sou assim..." Hoje sou má... Com o desejo intrépido de estilhaçar sentimentos sensíveis...
Você brincando comigo como se pudesse se sentir seguro andando na montanha russa... Aqui não meu bem... Aqui só se diverte quem pode... Quem não pode, fique lá, na segurança de seu carrossel, como se pudesse se satisfizer com a tranquilidade que isso causa.  Caminho segura e impecável sobre o fio de alta tensão...
E então...
Você ainda quer vir comigo? Gosto de imaginar que sim... Gosto de pensar que me procura por entre os cômodos da casa, e quando a noite, tem pesadelo, abraça o travesseiro, de modo quase ingênuo, procurando por um abrigo... Sou condenada a conviver apenas com o que mereço? Ou as que me restaram; as que eu escondi no meio da roupa embolada no armário, para você não levar de mim, a lembrança entre os mordiscos de meus dentes rangendo em suas digitais de seus dedos brancos meio curvado nas pontas, enquanto olho sua feição marota se distraindo ao observar o meu gesto.  Eu não tive as ferramentas para construir a felicidade... Construí o que tenho com aquilo que sou.
Respiro fundo, arregaço a camisa, mãos à obra.
Se, quero ser feliz, definitivamente devo me lembrar, que a felicidade deve começar primeiramente dentro de mim...
Basta olhar com coragem para o guarda-roupa da alma...
A honestidade para perceber, e a força para mudar, abrirá a porta - agora vou viver, e não apenas fazer as minhas vontades!


Texto e criação da autora Adriana Vargas de Aguiar , ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.



Apresentando:

Luana Ciriaco com sua obra


O que você faria...
Se descobrisse que tudo em sua vida é uma mentira? Se precisasse morrer para encontrar a verdade?
Depois de receber inúmeras cartas anônimas, e ter sua irmã seqüestrada, Emily é obrigada a correr contra o tempo, para salvar sua família, e desvendar os segredos que rondam o seu nascimento.

19 comentários:

amandio sales disse...

A formula da escrita já vem de você e o livro segredo de Eva já diz tudo!
Você já nasceu para escrever desenvolveu-se desde sempre, Você faz com as palavras formas de viagens para o leitor parabéns...
Um grande beijo e continue assim sendo esta maravilha de escritora.
Amandio Sales

Monikinha Dolisne disse...

Maravilhoso seu blog!!!!
já estou seguindo!!!
"eu quero participar da promoção!"

alex disse...

Lindo o texto.
Gostei da forma doce e ao mesmo tempo cativante com que usa as palavras.
Um beijo e vou sempre estar aqui buscando inspiração.

beijao
codidianodoalexhoje.blogspot.com

Camille disse...

que texto mais lindo! bem questionador! achei super interessante!
bjs

Evanir disse...

E nessa forma doce que te conheci querida.
Adriana.
Que texto profundo para mim que já conheço um pedacinho de você.
Quando nosso eu grita dentro do peito
lagrimas caiem dando vazão a nossas tantas desventuras no decorrer da nossa existencia.
Sem sombra de duvidas vou deixar a homenagem no meu blog quero que leia o comentário de um grande poeta o que diz a respeito ao .Clube Dos Autores.Não devemos entrar num site apenas com a intenção de ganhar um livro mais sim seguir o mesmo para ver o desenvolvimento do m mesmo .
Pela minha logica de pensar devemos estar sempre acompanhando quem da tudo de si para fazer desse mundo onde livros e livros estão sem ler devido a falta de interesse na leitura nos dias de hoje.
Li muito nessa vida e continuarei lendo é uma forma de viajar junto com o autor e assim viver uma nova vida que não seja unicamente a nossa.
Esse livro seu deve ser mil uma viagem onde me transporto para outra vida contada no livro.
Um dia lindo a todos um abraço e mil beijos espalhados em cada coração.
Evanir

@ Moda e Eu. disse...

Gostei do texto adriana, *-*

E smp fico curiosa sobre esse livro da emily*-*

Rosane Fantin disse...

Teu texto é uma poesia, denso e melodioso. Muito bom! Parabéns!
Rosane

Denir Junior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Denir Junior disse...

Adriana,
Gostei demais!

Abraços,

Denir.

Unknown disse...

Forte!

Enigma. disse...

Adriana, o seu trabalho é um primor da literatura. Parabéns! Abri o seu email hoje, obrigada! Espero ser a próxima na lista dos ganhadores (vou tentar). Um beijo fofo!

★Isa Mar disse...

Oi Adriana, passando pra te desejar um ótimo fim de semana.
Muito bom o trecho do livro, beijos

psixani disse...

Oi, Adriana!
Vim retribuir-lhe a visita, e também para dizer muito obrigada pelo incentivo!
O blog ainda está no começo, mas seja sempre bem-vinda!

Beijos!!
http://psixani.blogspot.com/

MOISÉS POETA disse...

Penso que somos , quase tudo , do que escrevemos.
salvo alguns momentos em que o escritor(a) cria fantasias em torno de uma estória estruturada e alegorica. mas creio que mesmo assim , fica um pouco da alma estendida sobre o ¨papel¨

Adorei o texto !

Um beijo , Adriana !

Paulo Sergio Paz disse...

interessantissimo seu texto, sublime. parabéns.

http://paulosergioembuscadotempoperdido.blogspot.com/

LUCONI MARCIA MARIA disse...

Adriana como escreve bem, nossa fico encantada com teu estilo e inspiração, parabéns minha linda, muito bom estar aqui, sempre, beijos Luconi

Cleide disse...

Adorei!!!

barthesx disse...

Um blog delicioso...Bjosss...

Ahtange Ferreira disse...

Sem comentários só tenho a aprender com quem usa as palavras de forma tão perfeita.
Obrigada por partilhar.

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