sábado, 26 de novembro de 2011

O limbo de Reaping Machine

1
Para os ouvidos ... O som das águas;
Para os olhos ... As gavetas enumeradas aleatoriamente.
O humano sobre a mesa cirúrgica olhava fixamente nos olhos daquele que o cortava. A lâmina deslizou pelo tórax até a virilha. Não existia dor, calor ou temor. Reaping Machine abriu a pele do homem e olhou para os órgãos em pleno funcionamento.
— O que tiro primeiro?
— Talvez a morte seja mais rápida com o desligamento do coração – respondeu o homem sobre a mesa.
Reaping Machine assentiu com a cabeça e ergueu a lâmina. Ele cortou as veias do coração e retirou o órgão do corpo do homem. Não existia sinal de morte. O olhar do paciente ainda era intenso. Reaping o olhou assustado. Nunca em sua vida vira algo assim. Ele deixou o corpo cair sobre a cadeira ao lado da mesa e jogou o órgão dentro de uma bolsa de gelo. O sangue da lâmina escorria pelo jaleco branco.
— Não desista tão rápido, doutor – sussurrou o homem na mesa.
— É impossível existir vida em você – respondeu Reaping cabisbaixo. – Eu estou tendo mais um daqueles sonhos que vem me assombrando.
— Quem é você?
Silêncio.
De repente...
Para os ouvidos ... O som das águas;
Para os olhos ... Um límpido jardim verde.
...

2
As famílias preparavam o jantar. Todos se entreolhavam receosos. As notícias de que a polícia estava pronta para prender os judeus se espalhou rapidamente por todo o subúrbio alemão. Segundo relatos de algumas pessoas Hitler havia ordenado a prisão de um garoto incomum. A mãe olhou para o filho e deixou que uma lágrima escorresse sobre as expressões cansadas no rosto. O garoto não compreendia por que todas as pessoas começaram a o ignorar. Ele passou os últimos dias em casa, sem brincar com os vizinhos e nem mesmo ir à escola. Reaping Machine, como era chamado secretamente, tinha poderes sobrenaturais. Os ventos que os trouxeram do norte também espalharam por toda a vizinhança as réstia de uma família perturbada.
Ele matou o pai e avó aos cinco anos de idade, cochichavam as mães de família.
A mãe tentava ignorar as fofocas e proteger os ouvidos do filho, mas era impossível. Reaping acabara se acostumando aos ditos dos colegas de escola.
Os arrombamentos explodiram por todos os lados ao mesmo tempo. A mãe levantou da cadeira e agarrou o filho entre os braços.
— Querem a mim, mamãe.
— Eles não vão o levar, filho.
Todo o amor de mãe foi leviano para o poder dos soldados de Hitler. Eles separaram mãe de filho e os levaram para campos de concentração. Reaping passou cinco dias entre crianças de famílias diferentes e que não o conheciam como matador. Ele gostava de estar ali, a não ser à noite quando se lembrava da mãe. No quinto dia, Reaping recebeu a visita de um membro supremo da GESTAPO. O homem sentou diante do garoto e não sussurrou nenhuma palavra. Minutos depois ele ordenou que Reaping o seguisse até um carro.
Quando Reaping percebeu estava encarando Hitler. O ditador o olhou por alguns segundos e ordenou que o levassem para um quarto de hóspedes. A casa era enorme e confortável. Dias depois entregaram a Reaping uma das empregadas judias de Hitler. Ele incompreendia o porquê da senhora bem portada estar dentro de seu quarto. Ela implorou súplica ao garoto e ele, por sua vez, deitou-se na cama e dormiu por doze horas.
...
— Depois trouxeram a minha mãe e falaram que se eu não matasse os judeus ela estaria morta – proferiu Reaping com o olhar fixo no ditador que se aproximava. – Conheci a morte aos cinco anos e foi aclamado como Reaping Machine.
— Não é uma história qualquer que vai me fazer ter compaixão. Você matou pessoas inocentes e gostava do que fazia – respondeu o humano ao seu lado.
— Quem é você?
— Sou um anjo luciferiano e estou aqui para entregar-lhe seu limbo.
O exército de Hitler era totalmente composto por judeus. Reaping encontrou a mãe ao lado do ditador e desejou estar em seus braços. Todos ali foram mortos por Reaping Machine. Ele passou a eternidade encarando os rostos inocentes e acusadores ao seu redor.

OBS: Reaping estava junto a Hitler quando o mesmo cometeu suicídio.
 Tirem suas próprias conclusões sobre Reaping, mas lembre-se que não está longe de nossa realidade.


Autor: R.S. MERCES

Texto e criação do autor, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.

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Conheçam esta obra - PÁSSAROS AINDA CANTAM EM MINHA JANELA de Janette Soares
Parceria com a Editora Garcia Edizioni



Os segredos de uma ex hippie revelados nos mínimos detalhes. Uma história emocionante e envolvente que tranformará completamente o seu modo de olhar o mundo à sua volta.
Esse livro narra a trajetória de vida de uma jovem que fugiu de casa no final da década de 70 para ser hippie, em busca de respostas para seus questionamentos interiores, peculiar de uma adolescente que não se enquadra nas futilidades e superficialidades que o mundo em si apresenta. 
Passou pelo mundo das drogas, viajou por todo o Brasil e fronteiras, passou pela experiência de ser mãe duas vezes na década de 80, e por desilusões amorosas marcantes. 
Em meados dos anos 90 se descobriu portadora do vírus HIV, e no ano de 2004 conseguiu encontrar aquilo que sempre procurou ao longo de sua existência, passando a viver uma vida definitivamente e radicalmente transformada.

12 comentários:

Cadinho RoCo disse...

Do surrealismo iumaginado à experiência que termina por nos trazer relato de vida, o ser humano em suas infindas vertentes.
Cadinho RoCo

RUDYNALVA disse...

R.S. Merces!
Interessante o nome escolhido: Reaping Machine, dá a impressão futurista, embora a estória seja do passado...

A dica do livro da Janette é interessante!

Bom final de semana!

cheirinhos
Rudy

" Eu apoio os novos autores"!

http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/

Cidinha disse...

Olá Adriana. A história nos dá um frio na barriga. Muito forte amiga! Temos muito a refletir. Obrigada pela visita! òtimo domingo pra vc. bjos!

Anônimo disse...

Texto interessante. Por um acaso, é fragmento de algum livro do autor R.S. MERCES? Se é, por favor, diga-nos o nome do livro. Parabéns!!

Jonathan Cruz disse...

Olá Evanir, vim agradecer as belas palavras que deixastes em meu blog. Te desejo o mesmo, adorei saber a novidade. Tenha um lindo final de semana.

Abraço e fica com Deus.

Cesar S. Farias disse...

Que as feridas deixadas pelo nazismo sirvam para ensinar-nos cada vez mais a tolerância.
O livro de Janette, abordando a busca interior dos jovens, parece ser uma boa pedida.

Mia Antiery disse...

Texto maravilhoso. O clube dos novos autores sempre surpreende com obras de excelente nivel.
Sucesso!!!

Jonathan Cruz disse...

Olá, mandei uma mensagem para Evanir e veio parar em seu blog, rsrsrs coisa de louco, desculpe. Obrigado pela visita em meu blog e por me seguir também. Também estou te seguindo.

Autora Paula R. Cardoso Bruno disse...

Adorei...
Sucesso!
Bjkas.
Paulinha
Conheça os meus livros na aba superior no meu blog http://blog-da-paulinharj.blogspot.com/
Se quiser, podemos marcar uma entrevista para postar lá. Me escreva mapalu@ig.com.br

Ordem do Saber disse...

Eita....que forte.

Parabéns.

Bom conto.

Um bom domingo.

Rosane Fantin disse...

Oi! Assim como o Rubens fiquei interessada em saber se este texto é trecho de algum livro do Merces.Muito intrigante...
Parabéns!
Rosane

Renan Merces disse...

Bom, pessoal

Ainda não posso dizer que seja um fragmento de um livro, mas futuramente quem sabe.

Agradeço os comentários,
R.S.Merces

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