terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Rosa

Um banco, rústicamente talhado, à beira de um grande lago, contemplava, ao fundo, uma cadeia de montanhas, com suas copas recobertas de neve. Pareciam enormes montanhas de chocolate, com cobertura de doce de leite.

À beira do lago, árvores perfeitamente arranjadas, provavelmente resultado de reflorestamento. De dentro da "pequena selva" era possível perceber uma enormidade de sons. Eram de pássaros! Um som teimoso e confuso, resultado do grande número de espécies que ali se juntavam, mas também era gostoso. Em alguns instantes o silêncio se fazia presente e apenas um pássaro, mais teimoso ainda, o cortava com seu canto, com certeza um Bem-te-vi.
Entre as árvores e o lago uma enorme casa, provavelmente do século XV ou XVI, com paredes de pedra, feita provavelmente para resistir ao tempo, ao implacável tempo que nada perdoa. Suas paredes parcialmente recobertas por uma espécie de trepadeira que em alguns pontos quase chegava ao telhado. Possuia uma pequena varanda, com espaço suficiente apenas para uma pequena mesa, ladeada por duas cadeiras. Ao longo do tempo esta casa foi, provavelmente, a única "testemunha" diária e noturna de tão deslumbrante cenário.

Mas o que se destacava no meio de todo aquele verdejante cenário era um pequeno jardim, recheado de rosas vermelhas. Um vermelho tão vivo que parecia ter cido pintado ali. E quase no meio deste jardim, protegida por um exército de espinhos, pendia de um dos galhos, uma rosa branca. Estava começando a desabrochar. Parecia mais uma intrusa, sua cor branca como a neve era como uma gota de óleo n'agua.
Da casa, através de uma janela aberta "alguém a observava", comtemplando sua alvura, assim como também admirava o lago, as montanhas e todo aquele verde. Os olhares partiam de dentro de um vaso, que assim como a casa, ele pertencia ao século XV ou XVI.

O olhar era de uma rosa, plantada carinhosamente naquele vaso. Recebia a luz do mundo externo em suas pétalas e quase parecia sorrir para tudo o que se passava do lado de fora. Daquela posição o que mais lhe chamava a atenção era o jardim, antiga morada, e neste jardim a rosa branca. Contemplava sua beleza e lembrava-se de quando fazia parte daquele jardim. Lembrava-se, com uma deliciosa saudade, do tempo em que o sol da manhã lhe secava o orvalho, que a noite lhe depositava nas pétalas. Do tempo em que as abelhas a visitavam e carinhosamente pegavam seu néctar e em troca a polinizavam. Teve uma vida feliz naquele jardim, ela era a mais assediada, e gostou muito disso.

Se sentia feliz, nada do que se queixar, afinal, tinha água o suficiente, claridade e ficar dentro da casa até lhe prolongava a vida. Tinha orgulho de saber que só estava ali por um ato de amor, pois fora oferecida em um dia dos namorados. Foi um presente carinhoso dado à doce senhora que ali morava com seu amor. Mas gostava mesmo das conversas que tinha com a doce senhora, era a melhor parte do dia. Enchia-se de alegria quando a doce senhora sentava-se de frente com ela e dizia que ela estava cada vez mais bela.

Talvez fossem essas palavras amorosas ou a água sempre fresca banhando o seu caule, difícil dizer, mas uma coisa era certa, os dias se passavam e a rosa mantinha-se viçosa, tal e qual o dia em que fora colocada ali.

Numa bela tarde a rosa percebeu uma grande agitação no vaso e logo viu a chegada de uma companheira, uma linda rosa branca e mais que depressa a rosa vermelha torceu-se e olhou para o jardim. Não viu a rosa branca, abriu-se ainda mais de felicidade, pois tinha dentro do mesmo vaso aquela por quem tinha grande admiração. Achava-a linda em sua brancura sem fim.

Esperou que as coisas se acalmassem para iniciar uma conversa e tirar o atraso, papo de flor entende. Para seu espanto a rosa branca manteve-se de costas para ela. Pouco tempo depois iniciou um ciclo de reclamações que pareciam não ter fim. Queixava-se do vaso, da sombra e da falta de sol, da água e de quando "aquela velha" ficava falando sobre o amor. Lamentava a distância do jardim e de ainda ter que dividir aquele "vaso velho" com uma "rosa velha".

Sempre que a rosa vermelha tentava um contato a rosa branca se torcia em seu caule e ficava virada para o lado contrário do vaso. Nada a agradava, aliás, tudo a incomodava. Todo aquele esforço e aquela mágoa a impediu de desabrochar completamente, logo parecia mais velha que a rosa vermelha. Suas pétalas foram caindo e foi ficando arqueada. As pétalas que restavam estavam cada vez mais amarelas e quebradiças, logo não sobrou nada além de um caule torto e enrugado, ela não resistiu.

A rosa vermelha lamentou ter acompanhado o fim de algo tão belo, mas percebeu também que sem amor, amor incondicional pela vida, nada sobrevive. Chegou à conclusão que "sem a vida, até a morte deixaria de existir". Voltou a contemplar o cenário maravilhoso e de vêz enquando dormia embalada por aquela voz doce lhe dizendo que era especial.

Os dias se passaram e ela também se foi. Ela era especial e lá no jardim ela tornou-se inspiração para muitas rosas que anseavam pelo dia em que poderiam ocupar o lugar daquela rosa especial. No fundo, até o lago e as montanhas compreenderam que a vida é efêmera e passageira, mas deve ser vivida na sua plenitude. Aprenderam que não é o tempo de vida que vale, mas o que se faz durante esse tempo.


Texto de J.C.Hesse




Texto e criação do autor, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.




20 comentários:

Charles Canela disse...

muito bom seu blog...lendo e absorvendo coias boas por aqui, viu

@ Moda e Eu. disse...

Oi, muito bom,
beijocas.
Blanc

Cesar S. Farias disse...

Uma metáfora de bastante sensibilidade sobre a altivez, tão prejudicial para a percepção das pequenas coisas belas da vida. As rosas não falam mas sentem.

Anônimo disse...

Boa tarde querida Adriana, e todos os membros deste blog.E tb agradeço ao Amandio e Adriana, por serem cordiais, com as palavras que deixaste no meu blog.

Tantas coisas brotam da alma de um escritor.

Que lindo! árvores,lagos,rosas que brotam e morrem, espetáculo da natureza, e o jardim a rosa é o destaque.Bom Texto e parabéns para o autor.

Passei por aqui para deixar meu abraço a todos e tamém meu carinho.Beijos e bom feriado.

Unknown disse...

Lindo!

Quando a imaginação se une ao escritor, fecham um acordo e acontecem belezas assim!

Beijos

Mirze

Anônimo disse...

Belo texto de Hesse. Nos mostra que avida é feita para ser aproveitada ao máximo, e que picuinhas apenas nos desgastam e nos fazem perder tempo precioso.

Anônimo disse...

Belo texo de Hesse. Nos mostra que a vida deve ser aproveitada e que picuinhas apenas nos desgastam.

Francisco Domingues disse...

Vim numa visita-relâmpago, mas não podia partir sem um comentário. Interessou-me sobretudo a frase final: "não é o tempo de vida que vale, mas o que se faz durante esse tempo." É isso: vamos dar sentido à vida para que, quando a luz se nos apagar, sintamos na alma uma grande paz, dizendo-nos: "Eu vali a pena! Comigo o mundo ficou melhor! Adeus, gente, até à eternidade!"

Palavras disse...

Olá Evanir querida,

Tudo bem com você? COntinuo aqui admirando essa sua iniciativa.

Belíssimo texto, Parabéns ao autor pela narrativa exemplar!

Abraços para você Evanir e boa semana!

O Profeta disse...

Os olhos que choram
Não sabem mentir
As mãos que me tocam
Levam à alma o sentir

O abraço sincero
Aplaina meu corpo frio
Veste-me de sol ardente
Solta meu sonho em azul rio

Os sonhos perdidos
As juras e promessas que fazia
Guardei-as num cofre
Lancei à maresia

Mágico beijo

amandio sales disse...

Texto nota dez! parabéns
Amandio relações publicas clubnovosautoresblogspot.com

Paula Coelho disse...

Olá..
obrigada pela visita!!!
adorei o texto.. muito lindo.. sucesso..
beijos

Cleide disse...

Adorei o post...
E o blog, cada vez mais lindo...
Bjs =***

Evanir disse...

Olá!!!! cheguei a noite mais estou aqui amores
saudades de todos vocês.
Vou lutar bastante para conseguir com a ajuda do meu blog seguidores para o Clube.
Estou muito feliz de ver minha amiga Nati aqui.
Nati é uma grande amiga que mora perto da minha cidade.
A vocês uma linda quarta.
um beijo carinhoso a todos do Clube.
Evanir

Cidinha disse...

Olá Adriana. Belissimo texto! Belo exemplo de vida. Que possamos refletir! Obrigada pelo carinho da visita... Estarei passando por aqui. Bjos e grande abraço!

www.amsk.org.br disse...

Nós apoiamos os novos autores.
Que haja mais cultura á luz do conhecimento.
Um grande abraço,

Homeopatas dos Pés Descalços

RUDYNALVA disse...

J.C.Hesse!
Texto inspiradíssimo, traz o romantismo ao viver.
Parabéns!
cheirinhos
Rudy

" Eu apoio os novos autores"!

http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/

Blog Onivid Silva disse...

"Eu apoio o Novos Autores."

Rapha disse...

Eu apoio o Novos Autores!!

Dri, dps vou divulgar no blog pra ajudar a atingir os 2.000 seguidores ^^


Beijos
Rapha - Doce Encanto

• Ӗwerton Ľenildo. disse...

Que texto lindo! *o*
Parabéns. Seguindo sem medo! Dá uma olhadinha no meu Blog? eis o link:

papeldeumlivro.blogspot.com

Abraços .

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