segunda-feira, 7 de maio de 2012

Diligência

Por trás de duas árvores um rapaz está montado em seu cavalo. Ele segura seu chapéu sobre o joelho, enquanto seus cabelos ondulam ao vento. Está de olhos fechados, parece estar apenas ouvindo os sons da natureza. Repentinamente ele abre seus olhos verdes e um brilhante sorriso “maldoso” se faz perceber. Coloca o chapéu na cabeça e puxa sobre o rosto um lenço, escondendo a boca e parte do nariz, agora estava irreconhecível.

Surge na curva uma diligência, puxada por quatro cavalos. Na sua condução apenas o cocheiro. A diligência passa e ele inicia a perseguição, logo a alcança e salta de seu cavalo sobre a diligência e rende o condutor. Este assustado se joga para fugir, precipitando-se pelo caminho. Ele mantém os cavalos em louca corrida pelo caminho e quinhentos metro à frente reduz a velocidade e contorna um caminho levando a diligência por entre um emaranhado de vegetação.


Desce calmamente para o chão e solta os cavalos, deixando-os livres de suas cintas e amarras, depois os espanta. Agora é só pegar o produto de seu assalto e deixar para trás o carro da diligência. Abre a porta e um som forte se faz ouvir. Bammmm, é um tiro! Como um gato salta para trás e rola para o lado, saindo completamente da linha do próximo tiro. E ele ocorre, bammm! Ele não está armado, então contorna a diligência, sabe que terá que ser mais inteligente. Segue esgueirando-se até alcançar o outro lado da mesma, sua intenção é surpreender o atirador e fazê-lo sentir o peso de seus punhos.

Quando alcança a porta contrária, vê apenas a sombra do revolver do inimigo, ainda apontando para o ponto onde estava. Ele abre a porta rapidamente e avança, puxando para o lado de fora o seu inimigo. Vê-se envolvido num emaranhado de panos, mas segura firmemente o braço do mesmo, sabe que se deixar pode acabar ferido. Rola sobre o mesmo e o domina até com facilidade, mas quando a poeira abaixa...


_ É uma mulher? - Em seu espanto solta o braço que está desarmado e recebe um tapa no rosto. Devolve o tapa e a desarma.

_ Covarde!
_ Olha dona, covarde vivo vale mais que cavalheiro morto! - Ironiza a situação.

Ele sai de cima da mulher e ela se levanta como uma gata que viu água. Começa a se debater, tirando a poeira que está em seu vestido e cabelo. Então ele percebe a beleza da mulher e fica paralisado. Sua boca é um convite a um beijo, seus olhos uma ponte para o paraíso e seus cabelos escuros como um reflexo do sol na terra.


_ Quando meu pai o encontrar vou querer eu mesmo lhe pendurar na ponta de uma corda e vê-lo balançar até a morte! - Aquelas palavras o trouxeram de volta para a realidade.

_ Incrível como tão bela flor esconde tão grande veneno, se fossem apenas espinhos eu entenderia.
_ Ainda se acha no direito de bancar o poeta? Vamos ver se na cadeia fará versos.
_ Farei-os e todos só terão um objetivo.
_ A forca! - Diz ela.
_ Seu coração! - Diz ele.

Ela fica em silêncio, não porque tivesse gostado, mas talvez pela petulância daquele bandido. Resolve que não vai mais ficar ali e volta-se para a estrada, começa a caminhada. Ele a observa por alguns instantes, recolhe o cofre com o dinheiro, dispara contra o cadeado. Ela se assusta e olha para trás. Ele percebe e lhe pede desculpas, fazendo um gesto com as mãos. Ela se vira abruptamente e continua sua caminhada. Ele recolhe o dinheiro, assovia para seu cavalo, que logo o alcança. Coloca o dinheiro em sua bolsa, monta o cavalo e galopa até onde a mulher caminha, alcançando-a.


_ Quer uma carona? - Ironiza novamente.

_ Não! Obrigada, não costumo aceitar ajuda de bandidos.
_ Mas anda na diligência de bandidos. Para onde vai?
_ Não é de sua conta!
_ Quer companhia?
_ Não!
_ Você não ia para a cidade?
_ Ai, ai droga de tornozelo. Já roubou o que queria, vá embora! - Segue trôpega, com sua bota de salto alto.
_ Daria o que tenho em minha vida por um sorriso seu.
_ Só terá o meu desprezo.
_ Se for com amor, aceito!
_ Por que não me deixa quieta? Não preciso de sua companhia!
_ Na verdade estou preocupado com você, estas estradas são perigosas, estão cheias de ladrões, criminosos e pessoas sem nenhum respeito.
_ E o que você é? Não me parece que seja santo.
_ Na verdade só peguei o que é meu.
_ Então essa é a melhor maneira de conseguir o que julga ser seu?
_ Sim, pois minha família foi enganada pelo dono desse dinheiro, tomando de nós tudo o que levamos uma vida para construir.

Aquelas palavras a pegaram de surpresa. Ela para e fica olhando para o horizonte, lembrando das palavras de seu pai. "Mais uma família que não será mais problema para nós!".


_ Era sobre isso que ele falava? - Murmurou bem baixinho.

_ O que disse?
_ Não disse nada! Quero apenas chegar em casa e não me interessa o que quer fazer e de onde vem esse dinheiro.
_ Então suba na garupa que a levo até os limites da cidade. Deixe-me ao menos reparar parte do problema que lhe causei.

Ela aceita e sobe no cavalo. Ele a aconchega de maneira que não caia, vira o cavalo e segue em sentido contrário.


_ Para onde está me levando?

_ Para os limites da cidade.
_ Então eu estava indo em sentido contrário?
_ Sim! Estava! - Fala e continua no galope.
_ Porque não me disse?
_ Você não deixou.
_ Porque não mostra seu rosto, já que está tão certo de sua ação?
_ Porque está é uma terra em que o certo e o errado não tem rosto. - Ele segue em silêncio, as palavras dela lhe remoiam a alma.

Seguiram em silêncio por pelo menos uma hora e meia. Como o prometido, ele a deixou nos limites da cidade, acenou rapidamente um cumprimento com a aba do chapéu, virou seu cavalo e disse apenas adeus. Ela vê seu vulto sumir na poeira da estrada. Encosta seu nariz no ombro e sente o perfume que ele deixara em sua roupa.


_ Não! Não quero mais lembrar deste dia. - Resmungou para si mesma, mas sabia que algo a deixou incomodada.


Se pegou sorrindo, olhando na direção da estrada, mas o cowboy não a via mais, ele não viu que ela sorrira.
 ---------------------------------------------------------------------------
Texto e criação do autor J.C.Hesse, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.

2 comentários:

Fabiana Cardoso disse...

Gostei muito do texto, simpatizei com o 'bandido'!
Abraços Fabi
www.fabianacardosoescritora.wordpress.com

Gislene Vieira de Lima disse...

Lembrei-me daqueles livrinhos de bolso de faroeste que meu pai gostava tanto de ler. Só que agora fiquei curiosa pelo final. Rs.

Postar um comentário

Seja bem-vindo!
O sucesso deste blog depende de sua participação.
Comente!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...