Esses dias participei de um evento da Semana do Livro Nacional (que aconteceu em diversos estados ao mesmo tempo) e aconteceu algo inusitado no evento. Eu estava participando da mesa de Modismo Literário ao lado de autoras como Vanessa de Cássia, Jéssica Anitelly, Mari Scotti e éramos mediadas pelo Felipe Colbert.
Lá pelas tantas, uma pessoa acabou dizendo que por ser professora de literatura, acha errado que professores recomendem leitura de livros contemporâneos ou de "modismo" (aqueles temas que estouram como Vampiros, Anjos e Demônios, Distopias, Eróticos... enfim), mas sim apenas clássicos. Logo em seguida, uma das autoras levantou a questão de também ser professora de literatura e de quando estava na faculdade de Letras, escutava muito isso.
Opiniões a parte, fiquei um pouco impressionada... eu não sabia - ou sabia mas nunca tinha parado para pensar direito no assunto - que a literatura sofre preconceitos dentro de si mesma.
Vemos sempre autores se vangloriando de ideias geniais, de terem sido os primeiros, de terem feitos coisas que outros não fizeram ou apenas, de serem "diferenciados" por estarem navegando bravamente contra a maré de modismos.
Todo mundo já se distanciou de algum modismo. É como se o fato de que ele fosse modismo, entrasse em uma categoria nova, o "ser pior". Nossas redes sociais são entupidas por mensagens de "ai, agora o nirvana virou modinha" ou até mesmo quando um assunto entra em foco em demasia seja ele político, social ou mesmo cultural, logo ouvimos alguém reclamar: "ai não aguento mais ouvir falar disso".
Até aí muito normal, certo?
O problema está quando a saturação de um modismo vira preconceito. O mais puro preconceito.
"Eu leio Dostoiévski e não Stephenie Meyer", alguém sempre irá dizer para mostrar o quanto é culto e o quanto se diferencia e se distancia das grandes massas. Embutido nesse discurso está "você que lê Stephenie Meyer, é pior que eu", mesmo que não seja dito. Isso é preconceito, o mesmo que combatemos quando falamos em preconceito racial e de gênero. É um preconceito cultural. Porém, se houvesse realmente toda essa cultura aclamada, esse alguém leria os dois, compreendendo que cada um dos autores em questão tem o seu espaço.
Toda arte tem seu espaço. Inclusive a literatura. Inclusive os modismos literários vindos de Hollywood. Por que não?
A "cultura de massa" não deixa de ser cultura e não é necessariamente mais pobre que os outros tipos de cultura. Au contrair. É na cultura de massa que está impregnado o nosso dia a dia, que é a porta de entrada daquilo com o que nos identificamos para aquilo que iremos aprender.
Se nós, formadores de opinião, prestássemos mais atenção na cultura de massa... bem, talvez pudéssemos entender melhor as necessidades culturais do nosso público... e quem sabe - por que não? - levá-los a tocar, mesmo que de forma sublime e imperceptível, os viés mais profundos da arte.
Ir contra a maré nem sempre é uma decisão genial de perseverança, as vezes, pode ser apenas burrice!
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Texto e criação do autor, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
2 comentários:
Maravilhoso texto, Mariana!
Acho que o artista quer ser original. Isto faz pate da essência artística, criativa. Mas não podemos ser criativos dentro de um tema comum? Com certeza que sim! E talvez isso seja mais digno de mérito. Acho que há uma grande diferença entre aquele que faz algo que está na moda apenas para se dar bem indo contra o seu ideal, o seu estilo, daquele que sabe ouvir e captar o inconsciente coletivo e expressá-lo em suas obras. Pois o artista, aquele que cria, tem as "antenas ligadas", ele capta o que está no ar. Então se está na moda, tem mais força, tem mais energia para ser captada, pois é mais gente emanando. é nessa hora que o seu talento aparece quando ele expressa esta tendência de uma forma única, sem se preocupar em copiar, se importando apenas em sentir e expressar.
Achei ótimas as suas considerações e é por este motivo que precisamos divulgar nossos textos nas redes. Assim como muitos, temos algo a dizer, mesmo que seja para mostrar que precisamos olhar para nosso próprio umbigo.
Parabéns!!
J.C.Hesse
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