Natanie era uma caçadora, mas anteriormente, fora uma guerreira do exército de Deus, um anjo. Seus longos cabelos loiros já haviam perdido a beleza e a cor, tornando-se cinzentos, seus olhos antes azuis, também se acinzentaram, pois ela desistira de seu posto muitos anos atrás... mas ainda era uma bela mulher treinada em diversas artes marciais e capaz de usar inúmeras armas brancas.
Desligou o rádio do EcoSport preto em que estava ao lado de Damian, um híbrido de lobisomem e vampiro: uma aberração renegada como ela.
– Eu estava curtindo a música. – ele falou espiando-a de soslaio.
Damian parecia um homem normal: cabelos compridos em dreads, pele morena e olhos escuros e redondos; ele não era normal.
– Estamos nos aproximando do alvo. – ela informou com um belo sorriso, era a cabeça da equipe e ele a força. – Você não quer chamar atenção desnecessária, quer?
– Não, claro que não. – Damian suspirou resignado, vencido. A mulher tinha razão!
Abnegados só tinham uma forma de viver: tornando-se caçadores e mercenários. Se não quisessem morrer pelas mãos de outros caçadores, o jeito era afiliar-se à inquisição.
– Eles não estão longe. – Natanie abriu o mapa local, uma folha de papel rabiscada na qual ela e Damian calcularam a rota daqueles que estavam perseguindo: Dragões. – Possivelmente fizeram acampamento perto do lago, em busca de água... já devem estar cansados de fugir.
– E deveriam! Estamos perseguindo-os há dias!
– E teríamos aprisionado todos eles se você não tivesse uivado para a lua... – Natanie revirou os olhos cinzentos com insatisfação, incapaz de controlar seu ar de deboche.
A verdade era que na última caçada prenderam cerca de oitos dragões, todos em suas formas. Dois fugiram. Eram esses dois que eles perseguiam agora. Caçadores só caçavam aqueles que haviam cometidos crimes contra a humanidade. Esses dez dragões haviam matado e se alimentado de muitos humanos, era chegada a hora de dar um basta!
– Não pude me conter! Era uma Lua linda e brilhante! – Damian falou como um verdadeiro lobisomem, falhando em autocontrole, parecia até que iria uivar novamente só de ver a imagem da Lua redonda em sua mente.
O GPS grudado no painel apitou um pontinho vermelho no radar.
– Opa, acho que localizamos eles. – Damian anunciou orgulhoso.
– Hora de parar o carro ou eles poderão nos ouvir chegar. – Natanie informou o que já era do conhecimento de ambos.
Damian saiu da estrada e estacionou o EcoSport. Natanie olhou para o radar e para o mapa, localizando a posição exata de seus alvos:
– Tinha certeza que eles estariam próximos ao lago! – ela gabou-se de sua experiência. – Melhor seguirmos por aqui e se você der essa volta...
Damian a olhou com a cara torta em descontentamento.
– Você se desoloca mais depressa que eu, por isso dará a volta, assim poderemos cercá-los, eles não poderão escapar!
– Ótimo, ótimo. Eu dou a volta. – E ele tirou a camiseta vermelha, expondo o tórax peludo momentos antes de seus músculos esticarem-se ficando ainda mais forte. Seu nariz também esticou, formando um focinho.
Natanie não se assustava mais com aquela transformação. No princípio se incomodava com o estalar de ossos e esticar de músculos, mas agora já tinha visto aquela cena terrível inúmeras vezes e estava acostumada.
– Lembre-se, vá em silêncio. – ela o lembrou colocando seu arco e flecha nas costas.
Eles se separaram e desapareceram no escuro da noite. Era hora da caçada!
***
Eram dois dragões, mas pareciam dois humanos. Natanie os avistou de com um binóculo, sentados perto do lago. Eles não haviam feito fogueira com medo de chamar atenção, sabiam que estavam sendo perseguidos. Dragões eram criaturas extremamente mágicas em ambas as suas formas, mas na forma de dragão ficavam quase indestrutíveis. Natanie tinha suas flechas construídas com sangue de fadas e elas perfuravam a mais potente armadura. Ainda assim, seria perigosa uma aproximação mal calculada.
Ela viu que os dragões eram um casal: homem e mulher. Ele estava em pé fazendo a hora de vigia, enquanto ela aparentemente dormia. Ela viu Damian se posicionar.
O homem sentou-se, cobrindo-se com um cobertor, segurando um rifle, estava tão cansado que seus olhos se fecharam. A menos que a bala fosse de prata, não teria efeitos em Damian... e bem, Natani não era atingida por esse tipo de armamento.
Natanie deu o sinal de ataque. Damian começou a avançar rapidamente, com sua velocidade multiplicada por seus poderes híbridos. Olhou mais uma vez o acampamento e foi então que viu algo que não esperava: um elemento surpresa: Os dragões não eram dois e sim três. A mulher segurava no colo uma criança de três anos. Damian já estava avançando para a execução dos dois mais velhos, desconhecendo a existência do terceiro.
Mas Natanie não gostava da ideia de derramar sangue inocente, talvez por já ter sido servente de Deus, ainda tivesse em sua mente valores éticos imutáveis. Algo a impediu de deixar que aquele ataque continuasse.
Atirou uma flecha sem intenção de ferir, que bateu contra a sacola de mantimentos bem ao lado do homem dragão. Ele acordou e sobressalto e a viu, virando-se em sua direção com o rifle. A mulher dragão ficou em pé assustada, carregando o bebê. Essa não! Damian avançava por trás e seu plano dera errado!
O homem dragão foi atacado por Damian com uma mordida certeira em seu pescoço. Se ele fosse um humano comum sua jugular estaria rasgada, mas por ser um dragão, ele foi capaz de sentir a aproximação de Damian e se esquivou, tendo apenas o ombro rasgado pela mordida.
– Adalie, fuja! Fuja! – o homem gritou para aquela que deveria ser sua esposa, a que segurava a criança.
Natanie correu na direção da batalha, ainda distante viu Damian pular em cima do homem dragão. Ele não lutou, deixando-se ser atacado vorazmente por Damian, como se desse chance de ser capturado para que sua mulher pudesse fugir.
Adalie correu para longe, contornando o lago, mas ao ouvir os gritos de seu marido, virou-se para a cena cruel, hesitando em sua fuga! Ela viu seu marido ser desmembrado pela aberração lobo-vampiro, e berrou:
– Não!
Seu grito chamou a atenção de Damian. Ele correu na direção da mulher, que ao invés de fugir soltou a criança no chão. Adalie enfrentou o lobo vampiro. Ela ia proteger sua cria!
Sua pele virou âmbar, iluminada por uma força poderosa e expeliu fogo. Damian pulou para o lado evitando o ataque e avançou como um cachorro raivoso, derrubando-a no chão.
Natanie viu quando ele a dilacerou, arrancando suas vísceras e manchando a grama do cerrado de vermelho. A criança chorou e Damian foi atraído pelo choro. Um choque percorreu o corpo de Natanie antecipando o que estava para acontecer: lobisomens não sabiam se controlar e o fato de Damian ser meio vampiro apenas aumentava sua sede se segue.
– Damian! – Natanie gritou por seu nome na esperança que ele pudesse escutá-la.
Ele virou-se para ela com os dentes vermelhos em sangue.
– Não matamos os mais novos, lembra? – a regra era simples: eles só matavam aqueles que haviam derramado sangue de humanos.
Damian pareceu hesitar, tentando lutar contra a potência lupina que enebriava sua mente. A criança berrou de novo, assustada e Damian virou-se para ela pronto para atacar.
– Damian! – Natanie tentou pela segunda vez. Tirou o arco e flecha apontando-o para seu parceiro. – Não faça isso!
– É só um maldito dragão. – Damian avançou sem piedade para cima da criança.
Talvez fosse porque uma vez fora um anjo, mas Natanie atirou contra o joelho de Damian impedindo-o de chegar até o bebê. Pegou a criança do chão, estava enrolada em cobertores e tinha os olhos azuis bem grandes e molhados.
– Isso é mesmo necessário mulher? – Damian perguntou com raiva e mau-humor, puxando a flecha de seu joelho. Ele estava com a respiração ofegante, e Natanie soube que ele estava entrando em frênesi. Foi como se alguém dissesse a ela que ela precisava fugir.
– Não vou permitir que sangue inocente seja derramado!
– Então é melhor começar a correr! – Damian berrou e um urro grotesco saiu junto com sua voz. Sua pele distendeu mais uma vez, os ossos estalaram e ele ficou ainda maior, tornando-se mais poderoso.
Damian perdeu totalmente o controle e seu lado lobisomem tomou conta de sua consciência. Natanie sabia que não havia mais o que fazer a não ser fugir, com sorte poderia se proteger dentro do carro, pois era blindado e serviria como proteção contra a fúria de Damian até que ele se acalmasse. Ela correu, correu e correu até ficar quase sem ar. Alcançou o EcoSporte com Damian em seu encalço.
Damian pulou sobre ela e subiu no capô EcoSport. Encarou Natanie com os olhos pegando fogo, vermelhos, e ela deu alguns passos para trás.
– Damian, não! – disse, apertando o abraço na criança, protegendo o bebê. Ela o protegeria com sua vida se fosse necessário.
Ele rosnou e pulou na direção de Natanie e do bebê, pronto para dilacerá-los em mil pedacinhos. Mas algo inesperado aconteceu: uma luz amarelada envolveu Natanie e ela ficou um pouco tonta. Ouviu sinos, como se uma igreja estivesse dentro de sua cabeça.
Ao encostar naquela luz, Damian pegou fogo. Asas gigantescas surgiram nas costas de Natanie, seu cabelo ficou dourado e seus olhos recobraram a cor. Sua pele acendeu com uma luz colorida. Ela soube pelo esquentar do seu coração e pela canção que ouvia das estrelas, que era novamente um anjo e sua missão recém-adquirida era cuidar daquele bebê.
Abriu as asas e ergueu voo para um local seguro.
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