Recebi estas dicas de uma editora por email, e gostaria de dividi-las com vocês, principalmente com os colegas escritores, que como eu, sabemos bem do que se trata este texto, e principalmente, o sentimento que essas situações geram após tempos e tempos de espera, e um lindo "não" como resposta, vejam:
Se você é um autor que busca ser publicado pela primeira vez, talvez o mais aconselhável seja procurar primeiro uma editora tradicional, e apenas depois de esgotada essa possibilidade partir para a autopublicação.
O importante a lembrar é que editores tradicionais são parecidos com gerentes de banco: eles precisam apostar em novos autores, o que equivale a conceder um empréstimo, porque é disso que vivem, mas também necessitam ser muito cautelosos para não levar sua editora à falência com excesso de encalhes. Já os prestadores de serviços são semelhantes a lojistas: têm uma grande quantidade de produtos a oferecer e evidentemente desejam vender para o máximo de clientes possível. Aproxime-se dos primeiros com a calma de quem vai a um banco pedir empréstimo, e dos segundos com o espírito crítico de quem vai a uma loja fazer compras.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Editoras tradicionais
Vantagens
· Assumem os custos do livro
· Trabalham com profissionais qualificados
· Comercializam em livrarias de todo o país
· Divulgam a obra para a imprensa
· Interessam-se em promover o autor a longo prazo
· Têm o prestígio de sua marca
· Participam de feiras do livro e simpósios
Desvantagens
· Tomam todas as decisões sobre aparência e marketing
· Comercializam muitos livros, o seu é apenas mais um
· Remuneram em no máximo 10% do preço de capa
Prestadores de serviços
Vantagens
· Seguem todas as instruções do autor
· Apresentam qualidade muito variável
· Entregam no prazo e nas condições determinadas
· Permitem edições independentes do gosto do mercado
Desvantagens
· Cobram por todos os serviços prestados
· Apresentam qualidade muito variável
· Não têm qualquer envolvimento com o sucesso da obra ou do autor
· Não comercializam a obra
· Não têm prestígio
Texto de Laura Bacelar*
Linha editorial não é apenas uma boa desculpa para os editores recusarem a excelente autobiografia de uma ilustre desconhecida. Ao contrário, é a diretriz que norteia a maioria das decisões de uma editora bem-sucedida.
O campo dos conhecimentos e assuntos que podem virar livro - de culinária a romances esotéricos - é vastíssimo. Uma editora que pretenda tornar seus livros conhecidos (para vendê-los) precisa escolher uma faixa desse campo e nele atuar de maneira constante. Essa é justamente a sua linha editorial.
Assim, dificilmente se verá uma editora de compêndios de medicina publicando manuais de auto-ajuda, não importa por quem sejam escritos. Toda a sua estrutura de vendas e marketing estará voltada para convencer médicos, estudantes e professores de medicina que seus livros são bons e confiáveis.
Mesmo que doutores consumam auto-ajuda, não têm o hábito de consultar o catálogo de sua editora técnica para encontrar seu passatempo de fim de semana. Uma editora pode ter mais de um assunto em sua linha editorial, como por exemplo história e filosofia, ou romances estrangeiros e esportes. Não cabe a você julgar ou tentar convencer uma editora a se adaptar à sua obra, porém pesquisar quem no mercado já está produzindo livros similares.
Defina o gênero
Seu primeiro passo, portanto, é descobrir em que gênero a sua obra se encaixa. Trata-se de ficção (literatura, contos, romance "água com açúcar") ou não - ficção (sociologia, direito, marketing)? De que tipo, mais precisamente? Dirige-se a um público infantil, juvenil ou adulto? Pressupõe conhecimentos técnicos na área ou é para consumo do público em geral? É poesia? Autobiografia? Se você respondeu sim mais de uma vez para a mesma pergunta, tem um problema. Editores têm alergia a originais que pretendem ser filosofia, lição de vida para os jovens, autobiografia e comentários sobre sua carreira de promotor público ao mesmo tempo. Eles acham, com sua experiência de mercado, que publicar assim seria o equivalente a tentar convencer alguém a assistir um jogo de futebol em que houvesse intervalos para ópera, discussões sobre a situação econômica e gagues humorísticas. Independentemente da qualidade de cada trecho em si, seria pouco provável que um mesmo espectador gostasse ou mesmo assistisse a tudo.
Assim, avalie a sua própria obra e reformule-a para ser apenas uma coisa: reminiscências OU análise profissional OU poesia OU romance. Você sabe que fez um bom trabalho quando consegue encontrar o lugar ideal para seu livro nas prateleiras de uma livraria, na companhia de priminhas parecidas (porém não idênticas) à sua obra.
Editores têm ainda uma aversão recorrente por trabalhos amadores. Ao escolher o gênero predominante de sua obra, dê preferência àquilo que conhece melhor. Se você não tem prática em produzir literatura, é muito mais provável que consiga escrever um bom comentário sobre a vida nos tribunais de São Paulo (após ter trabalhado em vários por vinte anos) do que uma história de detetive interessante para o público leitor.
Leve em consideração que alguns gêneros são absolutamente temerários. Poesia, por exemplo, só terá chance de publicação se você for uma pessoa conhecida no meio cultural. Uma autobiografia, apenas no caso de você ser uma celebridade, ter tido experiências muito incomuns ou escrever como Machado de Assis.
Afie seu texto
Mesmo que você envie uma obra sobre o que domina para uma editora que publica aquele gênero, será sumariamente recusado se apresentar um calhamaço de quatrocentas páginas. Ninguém, nesses tempos de dinheiro curto, se arrisca a publicar um livrão (que se traduz em caro) de um autor desconhecido. Resuma, afie, corte. Separe o assunto em duas obras se for o caso. E considere contratar editores de texto profissionais para eliminar repetições e incoerências que você não consegue enxergar, aumentando o impacto do que está querendo dizer.
É uma boa idéia testar seu trabalho com amigos, mas tenha a coragem de pedir apenas a opinião daqueles sinceros e com boa bagagem literária. De outra forma, estará angariando um monte de palpites simpáticos e inúteis de sua mãe e da tia Maria.
Descubra uma editora possível
Após ter classificado ou adaptado a sua obra a um gênero existente no mercado, pesquise quais editoras o estão publicando. Para isto, não consulte apenas a sua própria biblioteca mas abale-se até uma livraria, visto que novas editoras surgem a cada mês. Tenha o cuidado de notar o que foi feito mais recentemente, pois uma casa editorial com muitos anos no mercado pode ter publicado literatura brasileira na década de setenta e hoje só encarar informática.
Procure perceber também se a editora que publica o gênero de sua obra não tem uma ideologia muito diferente da sua. Por exemplo, uma editora religiosa católica não vai publicar um livro espírita mesmo que fale de Jesus o tempo inteiro. Uma editora liberal tampouco vai editar a biografia de um coronel do Nordeste, ainda que contenha passagens históricas fascinantes.
Se você for criterioso/a, deve chegar a não mais que cinco ou seis editoras possíveis para a sua obra no mercado brasileiro. Envie, então, para cada uma delas, uma cópia impressa de seu texto, acompanhada de uma carta bem curta descrevendo o gênero em que se encaixa, aquilo que a diferencia das outras no mesmo ramo e, no caso de uma obra técnica, as suas qualificações para dissertar sobre o assunto. Não esqueça de incluir seu nome, endereço e telefone na primeira página do original.
Parte 3: Como se relacionar bem com seu editor
Texto de Laura Bacelar*
Comunicação com várias editoras
É normal e aceitável que um autor submeta o mesmo original para avaliação por várias casas editoriais, aguardando que alguma se pronuncie. Quando uma delas o faz (em geral a menor e portanto mais ágil), pede a boa educação que você avise as outras para que interrompam seu processo de avaliação.
Nessa hora alguns escritores tentam “forçar” uma decisão positiva de uma editora maior e mais famosa, com o argumento de que seu original já foi bem recebido por outra. A estratégia é válida, mas nem sempre produz bons resultados: a editora maior pode parabenizá-lo e deixar seu original de lado; o editor que o aceitou pode ser um rival detestado daquele a quem você está contatando e se ofender por ter mandado seu trabalho para os dois (editores têm egos às vezes tão grandes quanto os autores); o editor que o aceitou pode ficar sabendo que você contatou o rival detestado e voltar atrás!
Tome bastante cuidado, portanto: jamais minta, uma vez que o mercado é pequeno e a maioria dos editores sabe o que acontece uns com os outros. Só diga que o seu original foi aceito depois que você tiver visto o contrato. Conversa editorial simpática pode sumir no ar de um dia para o outro, ou o profissional que tratou com você trocar de emprego subitamente. E tente não dar uma de mercenário, já que editoras são um tanto ariscas com comportamento agressivo de autopromoção ao estilo norte-americano (eis um área em que receitas de marketing não funcionam...).
A escolha da editora
Se você estiver na ótima posição de dispor de mais de uma editora pela qual se decidir, considere alguns aspectos fundamentais: qualidade, distribuição, marketing e política de longo prazo.
Dá mais prestígio ser publicado por uma editora tradicional do que fazer uma edição por conta própria, mas não se a editora for tão precária que torne o produto de baixa qualidade. Capas horrorosas, erros de revisão, composição mal feita depõem contra a sua obra mais do que uma edição própria bem cuidada. Antes de assinar qualquer contrato, dê uma olhada nos outros livros publicados pela editora e veja se a sua apresentação lhe agrada.
A distribuição é o segundo ponto-chave: verifique se você consegue encontrar outros títulos da editora em questão nas melhores livrarias, leia o catálogo prestando atenção na clareza de apresentação das obras, telefone para o departamento de vendas pedindo informações sobre um livro que tenham lançado e analise o cuidado do atendimento.
Quanto mais bem atendido como consumidor você se sentir, tanto maiores as chances de que seus futuros leitores consigam comprar a sua obra.
O marketing deve ser estudado sob dois ângulos, o da marca editorial e o do autor. A editora que se promove confere mais prestígio aos seus autores do que editoras menos conhecidas, além de ter melhor trâmite na grande mídia. Por outro lado, as editoras famosas nem sempre investem na imagem do autor novo, deixando que o mercado o teste antes de darem todo o suporte de sua máquina marqueteira. Isso quer dizer que, ao ser publicado pela editora do José Saramago, por exemplo, você corre o risco de ser ignorado pelo pessoal de divulgação, ainda mais se o seu lançamento coincidir com o da última obra de um figurão como ele. Uma editora pequena pode oferecer-lhe mais em termos de marketing de autor, mas talvez não tenha a mesma influência das grandes editoras na mídia. Pondere (com o máximo de honestidade possível) se a sua obra tem o potencial de se tornar realmente um best seller, para o que uma grande editora apresenta mais vantagens, ou se é uma obra que necessita conquistar um público específico e diferenciado, quando uma pequena editora se torna mais vantajosa.
Por último, se precisar escolher por qual editora ter seu original publicado, considere suas políticas de longo prazo. A enorme maioria dos autores bem-sucedidos de todo o mundo alcançaram a fama apenas depois de uma ou mais obras de médio impacto, incluindo-se aí o autor brasileiro de maior vendagem na história, Paulo Coelho. É muito raro o escritor se tornar famoso com seu romance de estréia, razão pela qual, a menos que sua obra seja circunstancial (como a biografia de alguém muito visado pela mídia), é sábio avaliar se a editora com a qual pretende estabelecer um relacionamento se dispõe a promovê-lo e mantê-lo em catálogo por muitos anos.
O livro é um produto sobrecarregado de prestígio, com aura de “elitizado” e de trabalho de uma vida inteira. São imagens obviamente distorcidas, mas que deixam autores iniciantes muito inseguros, temerosos de que sua reputação seja abalada ou que seus professores os considerem um desastre ou que os cônjuges os abandonem ou que não apareça ninguém no lançamento.
Apesar de os medos fazerem parte do processo, é salutar lembrar que os profissionais de uma editora são do ramo da cultura e não psicólogos de plantão. Ataques de ansiedade, telefonemas diários à produção, reclamações insistentes sobre atrasos, revisões obsessivas e uma presença constante e não requisitada na editora não só não alteram a qualidade do produto final como podem deixar os responsáveis pelas decisões importantes de seu livro de muito mau humor.
Faça um favor a você mesmo e encare a edição de sua obra com o máximo de calma e equilíbrio possíveis. Faça de conta que está preparando uma lista de supermercado ou uma viagem à Europa. Trabalhe sua ansiedade com um terapeuta e dispense o editor de lhe fazer agrados no ego ou resolver suas inseguranças. Dessa forma, os inevitáveis problemas que surgirem poderão ser resolvidos de forma adulta e produtiva para todos os lados; afinal de contas, há em comum o desejo de que o livro seja um sucesso.
Trabalho pós-parto
Se você pensa que o seu trabalho acaba com o ponto final, esqueça. É imprescindível que você se torne um divulgador ferrenho de sua obra, dispondo-se a falar dela em programas de rádio a horas absurdas, dar entrevistas em talk-shows que você nem sabia que existiam, cavar palestras nas instituições de ensino com as quais você tenha contato e principalmente descobrir o endereço completo, incluindo CEP, até da sua professora do jardim-de-infância a fim de convidá-la para o seu lançamento.
Publicar é tornar público. A divulgação faz parte do trabalho de publicação de uma obra. Neste mundo explodindo de informações em que vivemos, não é fácil se fazer ouvir, ver, lembrar. A editora é responsável, de seu lado, por assessoria de imprensa, convites, releases e material de divulgação. Mas você também tem de contribuir, e com energia, para que seu livro seja comentado.
Guarde no armário de antigüidades aquela noção de que autores fazem fama enquanto se fecham em suas bibliotecas! Chame os amigos, contate colegas, não se iniba. A maioria dos compradores de livros se decide após ter ouvido falar de uma obra. E cada leitor pesa para fazer com que sua obra cruze a linha que separam um triste encalhe de uma bem-sucedida contribuição à cultura.
Este artigo é o terceiro de uma série de três, que abordou a distinção entre um prestador de serviços e uma editora tradicional, e como selecionar uma editora a qual apresentar seus originais.
*Laura Bacelar trabalha no mercado editorial desde 1982.
Artigos extraídos da Revista Livro Aberto do Grupo Editorial Cone Sul.
2 comentários:
Com a minha experiência de autor que já publicou um só livro, posso afirmar que todas as afirmações contidas neste texto procedem.
É o que acontece, na verdade.
Beijos, Drisph.
Jorge
heheheheheh adorei a parte da ansiedade..é verdade...e cômico...os escritores compreendem bem isso!! heheh adorei
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