Meu nome é Samael. Sou natural da Helvécia (atual Suíça), e gostaria de falar sobre uma de minhas preferencias. Uma de minhas muitas andanças pode descrever como sacio minhas vontades. Para tudo devemos adotar critérios, e não abandono os meus.
Abril de 1789, Catedral de Notre Dame; Paris.
Depois de perambular muito tempo pela Europa, resolvi ir até a França. Eu estava em Paris, às vésperas da Revolução Francesa, e sabia que em pouco tempo batalhas seriam travadas. Eu queria movimento, e precisava alimentar-me. Resolvi ir à grande Catedral de Notre Dame, onde uma multidão assistiria a missa ao entardecer. O sol estava baixo, escondia-se por detrás dos prédios. Enquanto o padre pregava, eu observava. Eu conhecia a ladainha do padre de cor, sabia a hora exata de responder aos pedidos do sacerdote; “Amém”. Enquanto olhava a multidão que saía da Catedral; achei o que eu queria. As pessoas saiam do templo, e meu alvo ficava para trás.
Fazia parte do jogo, era quase um ritual. Sempre foi assim a aproximação do macho para com a fêmea, ou do predador com a presa.
Por mais que tentemos mostrar o contrario, nos assemelhamos e muito aos animais, principalmente no que diz respeito aos nossos anseios mais primitivos. Assumindo esta semelhança, não me aflijo de falar sobre minhas preferências. O sangue das fêmeas é mais doce, encorpado. Seu calor é maior quando a vitima encontra-se tranquila, descansada.
- Boa noite senhora.
- Boa noite senhor.
- O que uma senhora tão distinta faz sozinha aqui na frente da Catedral?
- Espero meu marido, ele nunca se atrasa. – a Catedral já estava vazia.
Pontualidade era talvez a única qualidade do velho, que antes da missa, circulou pela Catedral com a jovem esposa como quem exibe um troféu, saindo em seguida, deixando a jovem sozinha. “Venho busca-la depois da missa; tenho uma reunião importante” – eu ouvi o velho falar.
- Posso acompanhá-la?
- Talvez não seja apropriado...
Matar o velho gordo não me deu trabalho, esconder o grande cadáver sim, antes de voltar a Catedral. Como bom predador eu observei antes da missa as presas em potencial e minhas habilidades treinadas pelos séculos de caça selecionaram a presa certa.
- Minha carruagem está parada logo ali, caso precise.
- Obrigada senhor.
Fui para carruagem e fiquei observando a mulher. Pelos sinais vitais da jovem eu percebi que ela estava triste, livrá-la da companhia do velho era um favor. Minha visão treinada percebia a quantidade de sangue que circulava em seu abdome; de forma que pude ver o que a mataria em alguns meses. Uma úlcera, uma ferida no estomago que crescia quando o seu próprio suco gástrico era produzido, aumentando a ferida cada vez mais. As dores que sentia eram terríveis com certeza. Imagino a queimação no estomago cada vez que o velho estivesse disposto a cobrar dela suas obrigações de esposa. Depois de trinta minutos voltei à frente da Catedral, e lá estava ela com o padre.
- Ainda esperando senhora?
- Sim senhor... Como é o seu nome?
- Meu nome é Samael, sou natural da Helvécia.
- Senhor Samael, o que faz por aqui?
- Estou a passeio, procurando um local para instalar meu consultório.
- Então é medico senhor Samael?
- Sim, sou.
- Estamos necessitados de bons médicos por aqui. Tenho uma dor no estomago que nenhum médico consegue resolver. – tudo andava conforme os planos. Ela sorriu para mim.
- Está frio; não é verdade? – ela perguntou.
- Sim. Posso levá-la em casa se quiser.
- Não acho apropriado... Ai!!! – era o seu estomago ferido pela ulcera.
- Senhor padre, por favor, preciso de ajuda! – carreguei a mulher para dentro da Catedral. As dores eram intensas, a úlcera estava em um estágio irreversível.
- Senhor padre, traga-me um copo de leite e uma colher, por favor. – tirei do meu bolso um vidro com um pó branco. Com a ponta da colher misturei um pouco do pó ao leite. Era bicarbonato de sódio.
- Desculpe senhora, não sei o seu nome...
- Meu nome é Eva, senhor Samael.
Eva; nome perfeito.
- Beba este leite. – ela bebeu a mistura.
- A dor... Passou, o alivio é imediato! Que remédio é este? – o alivio era imediato, mas pouco eficaz contra a ferida. Caso ficasse nervosa novamente a dor voltaria. Expliquei o que pude sobre o “remédio”, quando o padre nos interrompeu:
- Desculpe senhor, mas daqui a alguns minutos terei que fechar a Catedral.
- Eu acompanharei a senhora Eva até a sua casa, senhor padre. – chamei meu cocheiro, este se aproximou com a carruagem. Eva explicou como chegar a sua casa, e então entramos no transporte.
- É casada há quanto tempo senhora Eva? – ela era jovem, dezoito ou dezenove anos talvez.
- Sou casada há três anos senhor. – era um casamento arranjado com certeza, um acordo vantajoso para o velho gordo e o pai da moça.
- É feliz, com certeza...?
- Sim, sou... – ela respondeu e então olhou para a janela da carruagem, desviando seu olhar do meu. Ela era infeliz, uma lagrima correu dos seus olhos castanhos por sua face suave.
- Sente-se mal senhora?
- Não, talvez... Eu nem sei mais como me sinto... – era o que eu precisava. Uma mulher infeliz, carente por um tratamento digno.
- Calma senhora, por favor. Não é feliz, é?
- Eu não deveria falar sobre isto, nem sei o que meu marido vai falar quando me vir chegar com o senhor... Ai! – era o estomago novamente, ardia muito.
- Eu falarei com ele, me identificarei como médico e direi como a senhora passou mal. Juro que nada vai acontecer à senhora. – chegamos aos portões de sua casa. Ela perguntou pelo marido, os empregados falaram que o patrão não chegara. Entramos pela grande sala, pedi um copo de leite para as empregadas, depois eu as dispensei. Fechei as portas e janelas; fiz as misturas com o pó branco e ela bebeu, sentindo o alivio imediato.
- Deixe-me examinar a senhora.
- Acho que não seria apropriado...
Segurei sua mão com delicadeza, erguendo-a. Coloquei minha mão em seu ventre e a outra em suas costas.
- Inspire Eva... – ela inspirou, inflando seu colo generoso. Encostei meu ouvido em seu peito e ouvia o coração acelerado, a toda. O calor da mulher era absorvido rapidamente pelo meu corpo frio. Ergui-me e a virei, segurando sua cintura. Minha mão subiu em suas costas até seus ombros e beijei sua nuca. A cada centímetro de seu corpo percorrido por minhas mãos ela respondia com movimentos lascivos.
- Acho que não devemos... – ela falou com os olhos fechados.
- Shhhhh..., não fale agora...
Abri os botões de seu vestido, depois soltei os laços de seu espartilho revelando-me suas costas nuas. Coloquei minhas mãos em suas costas, massageando-as. Ela tinha seus músculos tensos, mas depois da breve massagem, estava relaxada. Desci minhas mãos até sua cintura e subi até seu colo generoso, segurando-o firmemente. Virei Eva de frente para mim e nos beijamos com fervor. Baixei seu vestido, depois sua camisola, revelando-a a meus olhos. Ela estava afoita, tentava tirar meu cinturão, mas atrapalhava-se. Ajudei-a com o cinto, ela tirou meu casaco e levantou minha camisa, revelando meu corpo a seus olhos. Abraçamo-nos e nos beijamos efusivamente. O calor de seu corpo aquecia o meu, que somente nestes minutos de contato tinha a temperatura igual a dos humanos. Levantei-a em meus braços, e meus sentidos especiais revelavam-me onde ficava o quarto. Caminhei até lá, com Eva ansiando pelo contato de nossos corpos. Seu coração batia rápido, sua corrente sanguínea fluía uniformemente, eu cheirava seu pescoço e via sua jugular pulsante.
O sangue das fêmeas é mais doce... Coloquei-a na cama, vagarosamente. Beijei seu pescoço, depois seu colo. Minha mão passeou por seu corpo; sentindo sua textura. Eva massageava minhas costas, arranhando-as de vez em quando. Eu não a decepcionei e tomei a frente nas ações. Meus movimentos eram vigorosos, porém cuidadosos. Suas mãos apertavam minha pele, eu sentia seu hálito quente em meu ombro. Nossos anseios estavam sendo atendidos, nossos instintos e egos eram massageados mutuamente. Eva arfava, apertando os lençóis brancos com uma mão e segurando na cabeceira da cama com outra.
A energia que emana nestes momentos limpa nossos corpos de mágoas e tristezas, nos revigora. Senti o corpo de Eva estremecer de forma que ela entregou-se a onda de energia que percorria o seu corpo, libertando um grito longo, cravando suas unhas em minhas costas. Era minha vez de entregar-me a onda de energia que parecia contagiar-me até a exaustão. Deitei-me ao seu lado, ela de costas para mim, cansada, porem com suas carnes tenras relaxadas e realizadas. Toquei-a:
- Tudo o que fizemos agora... Tudo o que sentimos... Foi real ou sonhei? – perguntou Eva.
- Foi tudo real Eva. Tudo real. Descanse querida, eu juro que nada nem ninguém vão lhe fazer mal.
- Você jura Samael?...
- Juro Eva, eu juro.
Ela adormeceu profundamente. Eu acariciei seu cabelo que cobria seu pescoço, deixando-o exposto a meus olhos. Sua jugular pulsava explicita a minha visão treinada pelos séculos de caça. Meus caninos penetravam sua pele alva, sem causar-lhe dor, pois as secreções anestésicas de meus dentes cuidavam deste incomodo detalhe. Senti cada fibra de sua pele ser rompida, até que seu sangue brotou.
Sorvi seu sangue enquanto ela sonhava com anjos e os sinos da Catedral de Notre Dame. Seu coração parava aos poucos, tranquilo, quase agradecido pelos sofrimentos aplacados. Nem uma ferida no estomago, nem um velho gordo trariam sofrimento para aquela mulher. Um calor intenso e uma saciedade indescritível tomavam conta de meu corpo, garantindo-me nutrição completa para minha subvida.
O sangue das fêmeas é mais doce e encorpado. Seu calor é maior quando a vitima encontra-se tranquila, descansada. Este é um de meus critérios. Escolho minhas vitimas, infelizes, desesperadas. Dou-lhes atenção, atendo seus anseios, depois aos meus.
Afinal, isto fazia parte do jogo, era quase um ritual...
Que se repetiria depois de alguns dias, e pelos séculos vindouros.
Fim
Nome: Rubens Maciel Conedera
Data de nascimento: 14/06/1978.
e-mail: rubaoconedera@yahoo.com.br
Página de Rubens Conedera no Clube de Autores: http://www.clubedeautores.com.br/authors/5125
Texto e criação do autor Rubens Maciel Conedera, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
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Livro 2: O Grande Pajé
Autor: César Soares
Os contos do escritor gaúcho Cesar Soares Farias são de indiscutível riqueza de detalhes, sobretudo aquele que intitula o livro. O Grande Pajé, como poderá observar o leitor, é uma criação grandiosa, que nos remete ao martírio de um Cristo banhado e redesenhado nas tintas da brasilidade. Na sequência, mais outros onze deliciosos contos, estes mais curtos e mais regados de comicidade. Todos levando o leitor a estabelecer uma efêmera relação de cumplicidade com os divertidos e singulares personagens que se sucedem nesse mosaico de "causos" e histórias que podem até ter acontecido com seu vizinho e você não teve tempo ou oportunidade de perceber. Uma questão de olhar. O olhar do narrador reproduz, com sutil singularidade, a caricatura de um Brasil matreiro e policromático, apesar de todas as mazelas. Contar um conto e aumentar mil pontos, é o que o autor faz brilhantemente, pintando palavras com predominância dos tons cerúleos do sul. À medida que as páginas avançam, somos tomados pelas mais diversas e prazerosas sensações, que nos entretêm e nos levam para dentro da obra. Uma obra feita de amor, humor, irreverência e crítica. Um painel onde se misturam, com criatividade, a prosa, a poesia, a música, o cômico e a força dos personagens. |
15 comentários:
gostei desse do pajé! interessante!
bjs
Vamos gente! Votando! Já dei o meu voto. Olalá!
Bjs.
Como é maravilhoso ver o talento de escrever e criar textos que nos convida a pensar brotar da mente de autores maravilhosos. Um grande abraço.
vampiro :D
Fiquei admirado quando ao final do texto, vi a idade do autor. É jovem mas de estilo maduro. Parabens, Rubens.
Muy interante,siempre un placer visitarte,un abrazo.J.R.
Alô, amigos!
Estou tentando seguir!
Não sei se deu desta vez!
Abraços!
Parabéns aos escritores...
Sem dúvida, muito bons os livros...
Bjsss
Forte!
Muito obrigado a todos pelos comentários!!!
maravilhoso, o tipo de texto em q me perco horas a fio lendo.
^^
Bjos ***
Bom Dia Meus Amores..
Estou doidinha para ler alguns livros aqui
mais vou espera mais um pouquinho.
Estou tão feliz de ver cada dia mais e mais esforço de cada autor dando sua cota de apoio no
Clube onde todos tem oportunidades de mostrar seus trabalhos.
Um beijo enorme sucesso a todos obrigada de coração pela visita no meu blog.
Indo final de semana conte comigo sempre beijos.
Evanir
Grande personagem Samael de Valdavia, Conspiraçao é um baita livro!parabens Rubens...
Parabens a todos.
Textos fantasticos neste blog.
Um grande abraço.
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