Acho que sabem muito bem
como são as filas de espera, seja ela qual for, você sempre encontra com quem
conversar e trocas experiências. As filas muitas vezes se restringe a grupo
social ou um determinado apanhado de pessoas com um mesmo objetivo. Eis que me
foi presente estar na fila de uma consulta para admissão de trabalho e conto
que por ali aguardavam umas oito ou mais pessoas. Devo admitir que meu
interesse maior estava nas páginas de um livro que lia no momento e não posso
afirmar um número exato. Não existia silêncio, mesmo que uma placa indicasse a
atitude como moral do ambiente, porém era ético a cada um, derramar seus
conflitos diários. Quando pus o livro de lado para atender ao olhar de uma
garota, deparei com um ser humano sedento por ouvir o som da própria voz. Ela
me contou o que fazia ali, como se eu não soubesse, reclamou da carga horária
que estava prestes a encarar e do salário baixo que levaria para as despesas da
casa. Fiquei, então, informado de seu casamento precoce, seu desespero para
reunir e atualizar todos os documentos necessários para a vaga, sua vida pacata
na cidade e seus diversos empregos temporários no último ano. Ela disse que
também quereria ter trago um livro para se distrair, porém acredito não ser a
leitura de seu hábito e só o mencionou no extinguir de suas confissões. Quis
saber que cargo eu aguardava e disse tão solenemente:
“— Auxiliar de biblioteca.”
Ela era Técnica em Edificações e ali
haviam mais seis Técnicos, entre edificações e enfermagem. Por assim contar, eu
era o auxiliar de biblioteca e por fim um aspirante ao cargo de médico, sentado
sozinho folheando um jornal. Não posso afirmar que lia as notícias e muito
certamente a edição não era do dia, pois estava em um amontado de revistas
velhas no saguão da clínica. Em minhas conclusões, fugia dos olhares das
garotas desesperadas por sua atenção. É do ser humano julgar e elas certamente
o julgavam com o partido perfeito para dividirem a cama e posso ressaltar
enxergar o brilho nos olhos quando o olhavam folhear o jornal.
A Técnica detentora de uma comunicação
cansativa, começara então a tentar a atenção do médico com assuntos medicinais.
Ela dissera que dormia um mês sim e no outro sofria de insônia. É engraçado
contar isso, mas na hora ultrapassou os limites da estupidez. Ela esperava uma
resposta dele e foi capaz ainda de acrescentar à história estudos das
universidades americanas para explicar o fenômeno. Uma enfermeira presente
receitou a ela uma receita caseira de um chá indispensável para insônia. Não
duvido nada que ela preferia ouvir uma cantada idiota do médico, tipo:
“— Gata, comigo não teria essa
problema.”
Pronto, estaria consumado o ápice de seu
dia e quando chegasse em casa recusaria deitar com o marido para deixar-se
flutuar nos sonhos da cura de sua insônia.
O médico assim como entrou no saguão o
deixou, em silêncio. Não respondeu a nenhum flerte e nem mesmo revelou qualquer
detalhe sórdido que pudesse fantasiar a mente das garotas apaixonadas. Eu
também não as veria mais, mas poderia as imaginar correndo pelos postos de
saúde para uma consulta. Só vou deixar para os meus preceitos as dores que
seriam capazes de alegar.
Espero que para a decepção delas ele não
seja pediatra.
Texto e criação do autor, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
2 comentários:
Muito legal este texto, um objetivo comum e várias vidas diferentes, muito bem captado.
Abraço,
J.C.Hesse
Muito bom, filas rendem inúmeras estórias!
abraços Fabi
www.fabianacardosoescritora.wordpress.com
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