_ Não!! - Soa um grito
desesperado.
A mão fica parada no
ar, trêmula, numa luta entre levar à cabo o desejo de vingança ou
não ser igual ao homem branco. O velho índio exita, os olhos estão
embotados de lágrimas e o corpo da garota está inerte, no chão, é
uma fração de segundo que parece levar uma vida inteira. O índio
levanta-se e recua até sentar-se na cadeira. Um jovem se projeta
para dentro do ambiente, é Guaçu.
_ Porque? - Pergunta o jovem.
_ Porque dói! Dói muito ver a filha de quem acabou com minha filha. - Resmungou o índio.
_ Porque? - Pergunta o jovem.
_ Porque dói! Dói muito ver a filha de quem acabou com minha filha. - Resmungou o índio.
_ Ela era minha mãe,
se esqueceu?
_ Antes de ser sua mãe
foi minha filha e viveu como tal. Eu sou um covarde! - Diz isso
jogando o cocar ao chão.
_ Você não é
covarde! É pai e chefe de uma grande família, os Amanas!
_ Não sou mais um pai
e não existem mais Amanas!
_ Sim! Existem, são fortes e corajosos! E ainda precisam de um chefe capaz de mantê-los confiantes. Esperam a sua volta.
_ Sim! Existem, são fortes e corajosos! E ainda precisam de um chefe capaz de mantê-los confiantes. Esperam a sua volta.
_ Seu sangue branco
está falando de esperança, mas seu sangue índio sabe que não
temos mais para onde ir.
_ O senhor precisa sair daqui e voltar para a natureza, voltar a conversar com ela e ouvir suas sábias palavras. - O rapaz coloca a moça deitada sobre a cama, beija-lhe a testa. Levanta e abraça o índio. Saem da cidade, ele está certo de que evitou a morte de mais uma pessoa inocente.
_ O senhor precisa sair daqui e voltar para a natureza, voltar a conversar com ela e ouvir suas sábias palavras. - O rapaz coloca a moça deitada sobre a cama, beija-lhe a testa. Levanta e abraça o índio. Saem da cidade, ele está certo de que evitou a morte de mais uma pessoa inocente.
-------------------------------------------------------------------
Algum tempo depois a
garota desperta e demora a entender o que está acontecendo,
cambaleia para fora da cabana, e cai. É socorrida, sendo levada para
a casa de seu pai. Quis o destino que todas estas vidas se cruzassem
de forma tão intrigante. Quando ela acorda vê seu pai debruçado
sobre a cama, ao seu lado. Dormia sentado em uma poltrona.
Um pano unido lhe toca
a testa, Ariene vira seu rosto e percebe uma das empregadas da casa,
está sentada do outro lado da cama, segura um pano umedecido. Esta
arregala os olhos ao ver que a garota acordou.
_ Que houve? - Sua voz quase que nem lhe sai dos lábios.
_ Que houve? - Sua voz quase que nem lhe sai dos lábios.
_ Ela acordou! - Diz a
mulher. O pai salta da cadeira e segura a mão da filha.
_ Oi florzinha, tá
tudo bem! Estamos cuidando de você! Vai ficar tudo bem! - Fala
demonstrando preocupação.
_ Como cheguei aqui? -
Ainda está atordoada, sabe que não era o mesmo lugar em que
estava.
_ Você foi encontrada, desacordada na cabana daquele velho índio louco. - A moça olha inquisidoramente para o pai e esforça-se para levantar da cama.
_ Fique deitada, você ainda não está forte. - Fala paternalmente.
_ Você foi encontrada, desacordada na cabana daquele velho índio louco. - A moça olha inquisidoramente para o pai e esforça-se para levantar da cama.
_ Fique deitada, você ainda não está forte. - Fala paternalmente.
_ Quer parar! - Retruca
a moça, já começando a mostrar sinais de recuperação.
_ Sim meu amor, mas é que fiquei preocupado! Achei até que você estava morrendo. Assim como sua mãe. - Falou com os olhos brilhantes, carregados de lágrimas e a voz entrecortada.
_ Talvez eu devesse realmente estar morta, para não ouvir o que eu ouvi! - Fuzilou.
_ Não diga isso! Não saberia o que fazer se algo lhe acontecesse. Você é o que mais importa na minha vida.
_ Sim meu amor, mas é que fiquei preocupado! Achei até que você estava morrendo. Assim como sua mãe. - Falou com os olhos brilhantes, carregados de lágrimas e a voz entrecortada.
_ Talvez eu devesse realmente estar morta, para não ouvir o que eu ouvi! - Fuzilou.
_ Não diga isso! Não saberia o que fazer se algo lhe acontecesse. Você é o que mais importa na minha vida.
_ Não é o que me diz,
mas tudo o que faz. Acha que se você for dono de tudo e de todos, se
sentirá mais feliz? Acha que as pessoas estão aqui apenas para lhe
servir? Não consegue entender que as pessoas querem ser felizes
também? O que é preciso para você parar? - Ele ainda não entendia
o que ela queria dizer, mesmo assim resolveu se defender.
_ De que está falando
minha filha? Veja como esta cidade está crescendo, não há crimes e
todos estão felizes. - Fala apontando pela janela.
_ Hipocrisia! Esse
deveria ser o nome desta cidade. Todos mentem! Ando pelas ruas e
ainda não sabia o porque, mas agora sei. Por medo! Não vejo a
felicidade aqui, apenas pessoas com medo. Como pude ser tão
egoísta e não ter notado? - A garota coloca suas mãos encobrindo o
rosto.
_ Minha filha, venha se
deitar, você deve estar delirando. Assim como sua mãe, você está
vendo "coisas". Preciso sair agora, mas quero que descanse.
- Sentia que aquela discussão acabaria lhe sendo negativa.
_ Quer que eu acredite que estou louca? Somente hoje entendi tudo. Sei como cresceu e se tornou dono de tudo que há por aqui. Dono da opinião dos fazendeiros, que não dão um passo sem que você diga algo. Como tomou para você, o que era de seu irmão. Cresci acreditando que tive um tio louco, porque que sempre disse que era! - Ele a olhou intimidadoramente, como nunca tinha olhado.
_ Você está delirando. Me desrespeita e inventa maluquices, sua mãe também passou por isso. Quer acabar como ela? Louca!
_ Quer que eu acredite que estou louca? Somente hoje entendi tudo. Sei como cresceu e se tornou dono de tudo que há por aqui. Dono da opinião dos fazendeiros, que não dão um passo sem que você diga algo. Como tomou para você, o que era de seu irmão. Cresci acreditando que tive um tio louco, porque que sempre disse que era! - Ele a olhou intimidadoramente, como nunca tinha olhado.
_ Você está delirando. Me desrespeita e inventa maluquices, sua mãe também passou por isso. Quer acabar como ela? Louca!
_ Você a matou também?
- Ele desfere um tapa no rosto da moça.
_ Covarde! - Ele recua
apavorado, foi instintivo.
_ Me desculpe filha, eu
não quis fazer isso. Mas você me deixou louco agora. - Ele tenta
abraçá-la, mas ela se esquiva.
_ É assim que resolve
suas questões? Ataca e depois pede desculpas?
_ Não! Não com você. Não faça isso comigo. Assim você está me maltratando. - Ele se senta na beirada da cama.
_ Então mostre que você pode mudar e melhorar a vida de todos. De que vai adiantar acumular toda esta riqueza? Porque não pode contemplar a felicidade das pessoas? - Diz a jovem, quase implorando.
_ Não! Não com você. Não faça isso comigo. Assim você está me maltratando. - Ele se senta na beirada da cama.
_ Então mostre que você pode mudar e melhorar a vida de todos. De que vai adiantar acumular toda esta riqueza? Porque não pode contemplar a felicidade das pessoas? - Diz a jovem, quase implorando.
------------------------------------------------------------
Uma hora depois o jovem Guaçu, acompanhado pelo velho índio, entra por uma ravina, escondida pelas árvores. O velho não presta a atenção ao caminho, está absorto em seus pensamentos, provavelmente amargando não ter conseguido cumprir com seu objetivo. Eles param e então o índio reconhece o lugar.
_ Porque me trouxe ao cemitério dos Amanas? Este é um lugar sagrado! - Disse enquanto descia do seu cavalo.
_ Lhe trouxe aqui
porque não conheço melhor lugar para que entenda tudo.
O jovem desce do cavalo
e assovia. Os rostos vão surgindo. Primeiro alguns mais velhos e
depois outros mais jovens. Todos vão se aproximando do velho índio,
velhos, jovens e crianças. No total 62 membros,
destes, a maioria com a idade entre treze e quinze anos. Ele os olha,
recoloca o cocar na cabeça e começa a abraçá-los. Pega crianças
no colo e chora, quase não acredita no que vê.
_ Mas como? Pensei que
estivessem mortos. - Murmura para o jovem e este lhe responde
prontamente.
_ Quando fomos
atacados, um grupo de índios salvou da aldeia as mulheres grávidas
e os jovens. Minha mãe e eu também conseguimos fugir. Mas nem todos
tiveram a mesma sorte. Dos que voltaram à aldeia,
alguns foram capturados e outros mortos. A maioria acabou como
escravo e estão trabalhando nas minas. Vamos libertá-los! Muitos
fugiram e conseguiram reencontrar a tribo, fortalecendo-a. A solução
foi vir para o único lugar que os fazendeiros não conheciam, o
cemitério.
_ Mas onde estão os homens que vão libertar nosso povo, só vejo jovens? - Falou passando a mão pela cabeça de garoto que estava com a cara já com pintura de guerra.
_ Estes! - Diz
apontando para os jovens.
_ Crianças? - Pergunta
o índio.
_ É o nosso exército!
- O velho índio olha mais atentamente a sua volta.
_ Não pode! São
crianças, serão esmagadas! - Enquanto fala coloca sua mão no ombro
do jovem, tentando mostrar-lhe a fragilidade da situação. Mas antes
mesmo que possa prosseguir o jovem o interrompe.
_ O senhor não acreditou que a tribo Amana ainda tivesse forças para existir. Agora duvida dos jovens Amanas! Peço apenas que volte a acreditar na alma dos jovens Amanas, há mais coragem em apenas um deles, que na soma de todos os fazendeiros. Agora não há mais nada a perder, tudo já nos foi tirado, exceto a vontade de ser livre. Se for o desejo da mãe terra, voltaremos ao seu seio, mas não sem lutar. - As palavras do jovem eram impetuosas e os gritos de guerra dos jovens ferveram o sangue do velho índio, como a muito tempo não acontecia.
-------------------------------------------------------------
Na casa, o silêncio toma conta do ambiente. O fazendeiro levanta e caminha até a janela. Está contemplando a cidade e as pessoas que caminham de um lado ao outro, seguindo seus caminhos e cumprindo com suas tarefas. As lágrimas lhe escorrem pelo rosto e ele se volta para a filha e a olha por alguns segundos, baixa a cabeça.
_ Pai, não é difícil! Podemos fazer muito por este lugar. Precisamos que as pessoas confiem e não vivam sob o medo.
_ Tem razão filha,
vamos mudar tudo o que estamos fazendo. Quero ver o sorriso de volta
ao rosto das pessoas desta cidade. - Se abraçam.
_ Pai? - Murmura ela.
_ Sim minha filha! -
Sussurra ele.
_ Vamos devolver as
propriedades a seus donos e formar uma comunidade, onde todos possam
falar e dar suas opiniões. - Ele se afasta, apenas o suficiente para
poder segurá-la pelos ombros, carinhosamente.
_ Está dizendo isso
por causa daquele moleque indígena? - Diz se afastando da moça,
dando-lhe as costas.
_ Pai, este é o maior
sinal de que as coisas vão mudar por aqui. Se não fizer isso,
ninguém vai acreditar que tudo está mudando. - Argumenta a moça.
Ela o vê baixar a cabeça, sabe que ele concordou.
_ Está bem! Mas vamos
com calma ok?
_ Ok, papai!
_ Adoro quando me chama
assim. Faz-me lembrar de sua mãe. - Os dois sorriem, a muito não
viviam um momento como este.
-------------------------------------------------------------------
O jovem apeia de seu
cavalo e entra na cidade, pela rua principal. Começa o corre-corre e
os tiros, ele está de peito aberto. Acredita que o seu destino é
livrar o seu povo, os Amanas, da escravidão. Mas sabe que para isso
também haverá um preço a ser pago. Não dá mais que cinco passos
e começa a ouvir o som das balas que começam a zumbir perto de seus
ouvidos.
Sabe exatamente até
onde seus passos vão levá-lo, até as portas da delegacia, para
pedir justiça. Pretende acusar o delegado e exigir que seja preso e
julgado, era um pedido insano. Então alguém surge correndo
em sua direção, é a filha do delegado, Ariene. Suas atenções se
dividem e os tiros cessam. Ela o abraça.
_ Parem de atirar!
Parem! Parem!
_ O que está fazendo?
Vai acabar morta!
_ Não faça isso, não
precisa, meu pai vai se entregar. Ele reconheceu os erros que
cometeu. - O rapaz se surpreende, mas duvida desta verdade.
_ Eu sei quem é o seu
pai e sei do que é capaz. Seu coração de filha está querendo
acreditar que seu pai é bom.
_ Você está enganado,
é meu coração de mulher que está falando. Um coração que você
roubou de mim e não faço questão nenhuma de tê-lo de volta.
_ Porque teve que ser
assim, por que? - Diz ele, seguido de um breve silêncio.
_ Eu te amo! - Diz a
moça.
_ Eu também te amo!
Mas.. - As palavras do rapaz não querem sair.
_ Mas o quê?
O som de um tiro ecoa
no ar e o rapaz tomba, atingido na perna. Recomeça o tiroteio, a
garota o arrasta para trás de um barril de água e rasga um pedaço
de seu vestido, amarrando-o na perna do rapaz. Ele a
está olhando, mas seus punhos se fecham.
_ Mas há momentos em
nossa vida, que a história deve acontecer como está escrita.
Proteja-se! - Ele se afasta da moça, empurrando-a delicadamente e
volta ao tiroteio.
-----------------------------------------------------------
Ariene desce e diz que
está com fome a uma das empregadas da casa, pois não comeu nada
ainda. Tenta conversar com a empregada que ouviu parte da conversa.
Esta não se mostra animada com as palavras do pai dela, mas diz que
nunca viu o pai dela descumprir uma promessa. Pergunta sobre a morte
da mãe, pois era criança quando a mãe morreu e não teve muito
tempo de conhecê-la. Mas a conversa é interrompida, ouve o começo
de um tiroteio. Assustada pega uma arma para se defender e tenta
entender o que está ocorrendo, indo até uma das janelas. Ela vê
Eduardo no meio da rua, empunhando armas e corre até ele, sem se
preocupar com os tiros. Conversam e quando pensa que tudo vai acabar
ele é atingido.
Ela o puxa para não
continuar sendo um alvo fácil. Vê que sua perna foi ferida e lhe
faz um torniquete. Mas é afastada e não consegue esboçar nenhuma
reação, diante das palavras de Eduardo. Só consegue
disparar um tiro, atingindo um dos homens de seu pai, pois este iria
acertar Eduardo. Mas ouve outro tiro, este saiu da janela de seu
quarto, imagina o pior.
------------------------------------------------------------------
Assim que ele fica só,
o velho André, começa a viver seus dramas internos. Enquanto divaga
ouve o início do tiroteio, vê o rapaz caminhar pela rua. Aquilo lhe
é uma afronta e uma fúria o toma de assalto. Pega sua espingarda e
fica observando o que está acontecendo, aguarda a oportunidade de
atingir o rapaz e acabar com toda a confusão.
_ Com tantos tiros nem
vai perceber o que lhe aconteceu. - Espera pelo melhor momento. Vê
sua filha correr pela rua e teme que ela seja atingida.
Mas num arroubo de
raiva, volta a fazer pontaria, não quer perder a oportunidade. Mas
um tiro é disparado e o rapaz cai. Vê sua filha puxar o rapaz para
fora da rua. Ele não consegue ver de onde está.
_ Tomara que alguém o
tenha matado, assim não preciso me preocupar mais. - Resmunga para
si mesmo. Ele dá as costas para a janela, acreditando que tudo está
acabado. Mas novos tiros começam a ser disparados. Ele volta à
janela e lá está o rapaz novamente.
_ Tem serviço que
temos que fazer pessoalmente. - Enquanto fala coloca seu rifle por
uma fresta da janela, mira, atira e vê o jovem cair.
A fumaça ainda sai do
cano de sua arma, quando algo lhe atinge o peito, é uma flecha. Não
há tempo para mais nada, sente sua vista embaçar.
_ Mas como? - Ele
caminha em direção de uma claridade, é a janela, ele cai.
-----------------------------------------------------------
Uma das atenções que
um índio aprende a ter logo na mais tenra idade é conhecer o
terreno em que vive. Assim, logo que o velho índio se viu obrigado a
viver entre os brancos, logo aprendeu sobre o seu ambiente. Mas um
outro detalhe tornou o velho índio uma sombra na cidade, ter ajudado
em sua construção. Então sabia exatamente onde deveria estar, para
cumprir com sua promessa e ainda ajudar a sua tribo.
Escolheu um ponto onde
poderia ver a janela do delegado e ainda teria uma vista privilegiada
de parte da rua, era o telhado do armazém. Estava no segundo piso,
longe o suficiente do chão, para não ser
percebido. Levou duas flechas, embora tivesse plena consciência de
que apenas uma bastaria. Ele vê o delegado caminhando de um lado
para o outro, no quarto da filha. Sabe que neste ponto teria
mais dificuldade, pois havia se posicionado bem de frente para a
janela onde esperava que ele fosse surgir. A filha está com ele, vê
que discutem. O índio encosta o corpo contra a parede e
aguarda.
_ Vai, fica de frente
para a rua, mais dois passos apenas e acertamos nossas contas. - O
arco está vergado no máximo, mas ele só consegue ver a sombra do
delegado.
Primeiro os segundos se
arrastam, depois os minutos. O índio consegue ver que o delegado
está muito próximo da janela, mas o ângulo de visão não o ajuda.
Ele ouve um assovio, sabe que o rapaz vai entrar pela
rua da cidade e enfrentar a todos.
_ Talvez agora esse
velho matreiro apareça. - Murmura para si.
Ele vê o jovem entrar
pela rua e o som de tiros, sua atenção se divide entre o rapaz e a
janela. Ele baixa o arco e dá mais duas voltas na corda do mesmo,
para aumentar a tensão e assim sua flecha se tornar ainda
mais rápida. Ele acompanha a movimentação, os homens do delegado
saltam de um lado para o outro, procurando um ponto onde podem
atingir o rapaz. O índio fecha os olhos e pede que o
vento guie seus sentidos e sua flecha.
Vê que a filha do
delegado corre pela rua e tenta proteger o rapaz, está conversando
com ele. Guaçu é atingido e a moça o socorre. Seus olhos começam
a se encher de lágrimas, passa a se questionar se não está
colocando vidas em perigo.
Ele percebe que o rapaz
volta para a rua e sente que seu sangue indígena o conclama à
guerra, não mais à vingança. E solta sua flecha, esta atinge um
dos capangas que estava às costas do rapaz, certamente o atingiria
de forma fatal. Só lhe resta uma única flecha e não exitará em
usá-la para proteger o rapaz.
Mais um tiro é
disparado, saiu da janela que ele vigiava, ele não consegue
distinguir nenhuma forma humana, está tudo escuro, vê apenas o cano
de um rifle. Enquanto seus pensamentos lhe enchem a mente ele está
armando o arco, vergando-o e disparando uma seta. E antes mesmo que
tivesse a certeza do alvo a flecha cortou o ar e penetrou na
penumbra.
Apenas o silêncio,
nada está fazendo parte de seu mundo. Seus olhos alcançam o rapaz,
que agora está no chão. Vê a garota correr novamente em seu
auxílio, como se desconhecedora do perigo desejasse
enfrentá-lo para proteger seu amor. Todo o tempo está parado, o
rapaz atingido e a flecha disparada. Então um movimento na penumbra,
ele não tem mais nenhuma flecha, mas não é necessário,
um corpo cambaleia e cai pela janela. É o delegado, mas como se isso
não mais importasse, seus olhos buscam saber de Guaçu. Ele desce e
alcança a rua, o rapaz já está de pé, amparado pela garota.
----------------------------------------------------------------
O jovem cai e uma nuvem
de poeira o recobre. Está tentando se levantar, seu ombro e sua
perna ardem. Dois braços o envolvem e o põe de pé. Seus olhos
encontram os de Ariene, que está coberto de lágrimas.
_ Obrigado! - Neste
instante um corpo cai, é o delegado.
_ Preciso ir. - Ariene
dispara pela rua e alcança o corpo de seu pai.
Ele ainda respira. Há
uma flecha cravada em seu peito. Ele tenta acariciá-la, mas ela
segura a sua mão, impedindo-o de concluir o gesto.
_ Porque pai? Porque?
_ Desculpa. - Geme,
contraindo o corpo de dor.
_ Por que papai! - Mas
não há resposta, apenas um leve sorriso. Seu pai fecha os olhos e
ela o vê inerte.
O velho índio, o
jovem, outros índios e alguns fazendeiros se aproximam do corpo do
delegado. Todos se olham, como se sentissem que precisavam encontrar
uma solução.
_ Agora a vida pode
continuar, não como cada um deseja, mas como precisamos que ela seja
a partir de agora. - Diz o chefe índio. Índios e fazendeiros se
acertam, dizem que é hora de mudar a cor do chão, de vermelho para
dourado novamente e fazer valer o nome da cidade, Ouro Novo.
O delegado é enterrado
ao lado da cova de sua esposa. Uma leve brisa morna sopra as pequenas
folhas que estão pelo chão. Dois jovens contemplam as duas lápides.
Estão em silêncio, o rapaz suspira, a moça lhe aperta a mão.
Não é um fim de tarde
como tantos outros, este é dourado. Talvez por ser uma região rica
em ouro, quem sabe. Eles se beijam. O beijo é a forma mais pura de
respeito, onde um permite ao outro a aproximação. Como se ficasse
estabelecido que não há barreiras entre eles. Assim o amor pode
transitar livremente.
O sol banha os dois
corpos, mas uma só sombra projeta-se ao longo do caminho e na medida
em que o sol baixa a sombra vai se esticando, indo para além
destes.
Agora índios, brancos e irmãos estão novamente juntos.
Agora índios, brancos e irmãos estão novamente juntos.
Fim
--------------------------------------------------------------
Texto e criação do autor J.C.Hesse, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
2 comentários:
Oi Hesse adorei, que final emocionante! Parabéns! Espero ler outros contos como esse!
Fabi
www.fabianacardosoescritora.wordpress.com
Maravilhoso!
Amei!!!
Postar um comentário
Seja bem-vindo!
O sucesso deste blog depende de sua participação.
Comente!