O fato de o caneco
permanecer intocado assim como o pão permanecer no prato pareceu não criar
nenhuma comoção nela. Recostou seus lábios ressequidos em sua bochecha e a
sentiu fria e macilenta. À sua costumeira despedida encontrou olhos também
opacos e desprovidos de emoções.
Eventualmente ela
acordava de mau humor, no entanto, algo estava estranho. Ainda não havia se
dado conta de que estava morto.
No ponto de ônibus
encontrou uma legião de zumbis. E dentro do veículo uma massa de carne fria e
inexpressiva se comprimia. Era o mesmo mundo, porém uma pesada cortina cinzenta
parecia ter caído sobre todas as cores.
Quando finalmente
se sentou em sua mesa no escritório ao lado do mesmo sujeito que há anos
compartilhava do mesmo cubículo sem que tivesse ido além de descobrir-lhe o
nome e os horários de banheiro, perguntou:
- O dia hoje está estranho não é?
Ele ergueu a
cabeça. Qual era mesmo o nome dele? Estava na ponta da língua. O sujeito também
parecia estar atarantado. Não sabia se era por conta da pergunta súbita. Fazia
quanto tempo que não lhe dirigia a palavra mesmo estando há tantos anos freqüentando
o mesmo espaço? Quando foi a ultima vez
que lhe dirigiu a palavra? Não lembrava.
O sujeito abriu a
boca. Ele também não tinha um brilho nos olhos. Sua pele também era pálida e
macilenta. Sentiu certa ansiedade quando o viu mover os lábios sem que nenhum
som saísse de sua garganta. Por fim, escancarou a língua para fora e a
mandíbula rompeu-se caindo sobre o tampo da mesa.
2 comentários:
Vixe! Vamos ver no que vai dar, rs!
Abraços,
J.C.Hesse
Olá acompanhando e adorando! Aguardando a continuação!
abraços Fabi
Postar um comentário
Seja bem-vindo!
O sucesso deste blog depende de sua participação.
Comente!