Quando
ele surgiu caminhando por sobre as águas do rio São Francisco muitos não
acreditaram nos próprios olhos. Devia
haver uma explicação científica para o fenômeno. E o sujeito nem aí. Caminhou
até a primeira padaria e pediu um pão. Depois, na porta desta começou a
multiplicá-los e distribuí-los.
Aí
já era demais. Isso já era subversão da ordem pública. Distribuir pães de graça
bem na frente da Padaria que pagava um zilhão de impostos era uma verdadeira
afronta. Enquadraram-no na lei de pirataria pela tal multiplicação de pães e o
enviaram para o xilindró.
Com
toda a diplomacia policial entrevistaram o sujeito para ver em qual banda ele
tocava. “Na hora do sapeca o ia ia” como diria o Bezerra da Silva o sujeito
ficou lá, mudo, com cara de quem nem tava aí. E como cada hematoma desaparecia
por si só a cada pancada mesmo os oficiais mais deletos se cansaram.
Para
piorar a história vazou para a televisão bem em época de escassez noticiaria.
Era o que faltava. Legiões de repórteres se juntaram aos poucos que haviam
presenciado os tais milagres na porta da delegacia. Preocupados com o anão dos
direitos humanos e com a visibilidade política do caso, soltaram o sujeito que
foi recebido com alguns vivas e um mar de microfones.
Nada
do sujeito falar. Ergueu uma mão e abriu aquele mar de gente como se este fosse
o mar vermelho e foi caminhando tranquilamente. No entanto, nunca subestime a
necessidade de ibope. Um carro parou no meio fio e um bando de homens o
enfiaram do banco de trás saindo em disparada.
Levaram-no
para aquele programa da tarde onde uma repórter se pôs a perguntar sobre o céu
e a terra e nada do sujeito responder. Desesperada com o gráfico que caia
vertiginosamente a mulher, desesperada, praticamente o pegou pelo colarinho e
lhe deu um safanão enquanto gritava:
- Mas porque você não me
responde?
O
sujeito deu uma piscadela para não dizer que a havia fitado com toda a sua
fleuma. Se levantou, deu uma batidinha
na roupa amarrotada e comentou antes de desaparecer em um efeito muito tosco
que qualquer pessoa pode fazer hoje em dia com uma filmadora de celular:
- Eu não acredito em humanos.Texto e criação do autor, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
2 comentários:
Bem elaborado, parabéns Gislene!
abraços Fabi
Hahahahaha....muito bom!
Abraços,
J.C.Hesse
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