Marrom e de madeira maciça. Quadrada. Perto da mesa de trabalho onde ficava um computador. Ficava ali entreaberta, como uma boca faminta sempre pronta a engolir.
Alguém sempre jogava uma migalha: um bilhetinho rabiscado, uma pequena seleção de palavras, um rascunho de uma carta de amor, a confissão de um erro que deveria ser um desabafo, tinha desenhos não finalizados, cartas rasuradas e até um capítulo que nunca virou livro. Ideias abandonadas tinham o sabor agridoce da falta de esperança. Eram seu alimento diário.
Vez ou outra alguém se aventurava a remexer seu conteúdo, catando as ideias como regurgitos criativos. Muitas vezes eram devolvidos ao seu interior, descartados quase como lixo. Quase, pois se fossem indesejados de verdade, nela não estariam.
A Gaveta das Ideias Abandonadas orgulhava-se de seu posto. Sua função era a de guardar carinhosamente aqueles lampejos de imaginação, protegê-los da degradação e cuidar para que nunca se perdessem.
Quem sabe em algum momento, aquelas ideias fossem postas em práticas... assim ela esperava.
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Por, Mariana Mello Sgambato, que alimenta sua gaveta de ideias abandonadas todos os dias e é formada em Comunicação Social – Produção Editorial na UAM com diploma em Criação de Roteiro para Produções. Entre suas publicações estão: Beijos & Batom (2012 – 22ª Bienal do Livro de SP), Segredos de um amor de Verão (2013) e Lembre-se de Morrer (2013), todos pela Editora Modo.
4 comentários:
Todos nós temos um cantinho assim, não é mesmo?
Bem interessante, gostei.
Abraços!
E eu que achei que tinha inventado o arquivo de pensamentos e ideias, kkkkkkk
Parabéns!
J.C.Hesse
Muito bom Mariana! A minha gaveta tem guardado as minhas mais loucas inspirações.
A minha gaveta anda pouco inspirada ali jogadas as idéias que já não servem para mais nada,hum...ou talvez quem sabe eu dando uma fuçada...
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