É
muito comum o "vácuo nas ideias" surgir em algum momento, seja com
quem for. O escritor ficava horas encarando o papel vazio na máquina de
escrever e hoje continua assim, encarando a tela branca do Word. Vamos falar um
pouco sobre prática.
O
aspirante a desenhista começa a encarar o seu maior desafio ao analisar o
desenho complexo permeado de sombras, texturas e detalhes. Ele imediatamente
pensa no tempo e dedicação que gastará para detalhar tudo aquilo. O desenhista
precisa aprender que não se aprende a construir um desenho da forma mais complexa.
Desenho são formas geométricas aplicadas com alguns detalhes. Ele desenha o
"esqueleto" de sua ideia e daí o desenho vai ganhando forma.
Organize
o tamanho e proporção de sua arte, com linhas horizontais e verticais. Você
agora já sabe o espaço que deverá respeitar ao apresentar o seu desenho. Depois,
esboce as formas geométricas que se assemelharão com o seu desenho, seja ele um
vaso, um carro, um prédio ou um personagem. Círculos, quadrados, retângulos e
cilindros serão desenhados antes de formar o desenho. Em seguida, comece a desenhar
por cima esses detalhes. O seu desenho está ganhando identidade e vida. A sua
arte nasce finalmente.
Não
é tão fácil assim. O bom desenhista é aquele que pratica muito. Repita a operação
e verá que não será tão difícil quanto da última vez. Quando você faz uma
história em quadrinhos, repete tanto o procedimento de desenhar o mesmo
personagem que ele acaba fluindo automaticamente. Charles Schulz
(Peanuts/Charlie Brown) revelou ter desenhado a cabeça redonda do personagem
mais de 50 mil vezes. O que diria os animadores então, sendo que cada segundo
de desenho animado tem em média 24 desenhos por segundo?
Agora,
vamos focar na questão da literatura. Assim como as formas geométricas giram ao
redor de tudo e estão camufladas por todos os cenários no campo visual, as
histórias e personagens também estão disponíveis ao escritor, como se fosse um
gigantesco pomar onírico, só esperando a sua colheita e que você use os
ingredientes para você por a mão na massa na construção e ornamentação de sua
obra.
Se
você não tiver ideia alguma do que começará a escrever, faça um pequeno exercício,
como se fosse um hábito. Comece narrando o dia, como se fosse um diário, mas
sob a perspectiva de um personagem:
"Hoje acordei com preguiça e sem
vontade de fazer nada. Abri a cortina e olhei para a janela e o dia estava
bonito, mas não estava o meu estado de espírito. Fui tomar café e me arrumei às
pressas para mais um dia rotineiro..."
Preencha
tudo isso em uma lauda, focando e mesclando conflitos pessoais com coisas boas,
como se fosse um ritmo. A escrita deve caminhar em um compasso, com surpresas boas
e ruins.
-Apresentação;
-Saindo
na rua;
-Primeiro
conflito;
-Dúvida
e desafio brotando;
-Voltando
para casa;
-Pensativo
sobre o conflito;
-Encontro
com o coadjuvante;
-Problema
paralelo;
-Ápice
do problema e conflitos unidos;
-Solução
do enígma;
-Desfecho.
Esses
tópicos preenchem um conto de 20 ou 25 páginas em formato A5, narrado em
primeira pessoa, na qual é mais difícil, por não poder expandir tanto nos
demais personagens. No caso de uma obra em terceira pessoa, a obra pode ficar
muito maior, porque o autor pode narrar e apresentar outros personagens, em
várias perspectivas e até recheá-la com histórias paralelas. Primeiro faça
teste com crônicas menores. Depois passe para contos deste exemplo. Quando se sentir
mais seguro, desenhe as "formas geométricas" de sua obra e com o
"esqueleto" pronto (esboço do início, meio e fim) determine os
personagens que participarão e siga em frente com a escrita. Nunca escreva sem
rumo e sem conceito do que quer passar e para onde vai chegar. Não se comporte
como um viajante sem rumo. Tenha em mãos o "mapa" de sua obra.
Boa
sorte e boa viagem!
Leo Vieira é autor do livro "Alecognição",
pela Editora Lexia.
Escritor acadêmico em 30 Academias e
Associações literárias; ator; professor; Comendador; Delegado Cultural em duas
cidades e Doutor em Teologia e Literatura.
Um comentário:
Ótimas dicas. Acho que é uma realidade de muitos! bjs
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