Ele disse que ia me deixar
Eram duas da tarde e eu estava no meu emprego quando sua voz lânguida soou do outro lado da linha.
Acho que entrei em choque, pois não senti absolutamente nada. Virei um robô, minha mente raciocinou rápido e com praticidade: ele podia ficar com o carro, mas eu fazia questão do apartamento! E a prataria que herdei da vovó não entraria nessa conta....
Caminhávamos para a separação, estávamos brigando muito e eu tinha certeza de que ele estava me traindo...por isso, talvez, não senti grande surpresa quando aquelas palavras saíram de sua boca.
- Vamos nos separar.
O dia passou intermitente, alguns momentos depressa demais, outros tão devagar que dava a impressão de que eu poderia resolver mil assuntos. Eu pensava freneticamente nas questões financeiras da separação e tudo se resolvia pacificamente na minha mente.
O dia acabou, peguei minha bolsa e fui para casa. Entrei pela portaria, subi pelo elevador... aquelas coisas que faço todos os dias e normalmente nem me lembro de ter feito. Não dessa vez. Tudo tinha um ar de "pela última vez" impregnado em cada ação. Eu me lembrava o tempo todo de que era o fim, de que havíamos acabado, de que a decisão tinha sido tomada... por ele.
Apenas quando saí do banho, já de camisola, percebi que estava chateada. Aquela era a última vez que eu o esperaria voltar do trabalho... e então me dei conta do que precisava fazer.
Assim que ele entrou pela porta, eu mostrei-lhe meu melhor sorriso. Exibi minhas torneadas pernas. Mostrei minha lingerie sexy, que eu nunca tirava da gaveta. Quando ele sorriu, notei que meu plano daria certo...
Aos beijos, deitamos na cama e fizemos sexo como se fôssemos dois namorados muito jovens. Ao final, quando ele acendeu um cigarro, perguntei:
- Ainda quer se separar?
- Essa noite foi incrível, mas não podemos mais ficar juntos.
- Não podemos? - suas palavras me surpreenderam. - Ou você não quer?
- Os dois.
- Você tem outra.
- Lá vem você de novo com ciúmes! - ele quase grita, o que me lembra de nossas brigas. O cheiro do cigarro escapa de sua boca.
Sabe, sou muito ciumenta e implico com qualquer coisa, motivo pelo qual ele decidiu se separar. Não quero brigar hoje.
- Não é ciúmes, não somos mais casados, você faz o que bem quiser... só estou curiosa...
- Pois bem.
- Tem outra, não tem?
- Ah... tem.
- Tem?
- Tem.
- Quem? Quando? Como?
- Já tem um tempo. Nos apaixonamos, decidimos nos casar, por isso quero o divórcio.
- E eu quero o seu coração.
- Você não pode tê-lo, é de outra agora.
- Ele sempre pertenceu a mim, dessa forma, ela não poderá tê-lo?
- E o que você vai fazer para impedir?
Antes que ele pudesse reagir eu já o acertava com uma faca da cozinha. Eu havia guardado-a embaixo do travesseiro, especialmente para esse momento.
Ao fim da noite, fritei seu coração e comi.
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