sexta-feira, 29 de abril de 2011

Eva de um Minuano



Acordei tão cedo... Sentia-me no céu.
Procurei por nuvens; querubins e trombetas. Nada!
Onde está a Arca Santa?
A saudade também os matou?
Quero ter com Deus
Pedir que me clareasse a visão
Será que a maldita também O matou?
Não o pressinto por perto; mas toco-me e não me sinto...
Tão pouco tenho agora... Morri
Tenho minha alma vazia... Sem mim...
Onde está o meu amado?
 Morri? Sem olhar nos olhos teus?
Pela vez última... Derradeira...
Um vento soprou tão intemperante
Desalentou-me o âmago...
Morri pela segunda vez; pensei desfalecida...
Voltou-me a visão; berço esplendido... Miro... Estou em meu quarto.
Uma falência momentânea do corpo... Apenas...
Estou viva!
O vento...
Ainda o ouço, mas tépido... Deixou o sombrio frio em algum lugar
Bate à porta, sons suaves; alguém me chamando...
Imagino a face do amado
Trazendo nas mãos o coração embrulhado - um presente
Nos lábios, um sorriso... E um doce pedido de desculpas.
Escuto novamente as batidas e traduzo,
São seus, os sons... Apressa-te... Entre!
Num comboio de palavras submersas
Escuto – sou eu, vértebra de Eva; Minuano do sul.
Abra-te! Deixe-me entrar.
Se demorares a abrir... Derramo-me por debaixo da porta... Derramo saudades...
Sem delongas, digo rapidamente - Tenho frio!
Abra-te...
Minhas pequenas feridas,
Beija-as sem asco
Com amor, pôs-me em posição de decúbito
Não me renderei ao deísmo
Sem antes me deliciar da restauração do estrago regenerado...
Traz nas mãos, uma estrela cadente,
As marcas de um ventre, Délpara, deificando a sua existência...
Reluzente... Ampara-me o suspiro
Ostenta em minhas entranhas seu plasmo umedecente
Desenhando a primeira letra de teu nome com a ponta dos dedos...
Sorrio...  Faz-me cócegas,
Surpresas atrás da porta...
Levanto o lençol e te peço - olhe minh'alma...
Ah! Se soubesses da louca que sou...
Parida; filha única de Atena;
Sonhadora; crê na justiça invisível,
Legado que me introduz o verso proibido
Não me deixa sossegada um segundo se quer...
Mordi do fruto proibido
O jardim das delícias não me perdoará...
Joguei veneno no Éden; pecadora; ardilosa...
Somente tu, inventando-me um novo Gênesis,
Alcança-me Redenção,
Com seus olhos bentos de água
Derrama-me candura;
Lava-me o lodo... Ponhas uma moldura em meu coração...
Mas escutes... De algo precisa saber
Nenhum adorno merece a minha carta de alforria...
Se tiveres que me salvar,
Ao menos, liberte-me... Entre o amor que geme e suspira,
Assino a carta da liberdade que voa.
E voo...
Voo.

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