quarta-feira, 4 de maio de 2011

Como sou?



Como sou?
Como todo mundo...: Só.
Sozinho aqui cheguei, arrancado do lugar mais confortável onde vivi, do ventre daquela que sempre me amou mais do que todas as pessoas que conheci , retirado abruptamente de um sono tranquilo para a inquietude da vida , seus medos , suas incertezas , sua complexidade . Meu primeiro elo com outra pessoa foi assim cortado; sangrando meu cordão umbilical me ensinou que todos só nos conhecemos pra depois partir, que tudo não passa somente de despedida e lágrima, que a vida não é nada além do agora, triste, frio, só...
Criei-me entre tolos que absorviam meu humor e meus sorrisos, retribuindo com afago o que eu mal sabia que doava. Senti na pele os arranhões dos tombos na primeira caminhada e descobri que seriam apenas os primeiros. Levantei-me das cinzas quando outros ainda adormeciam sentados sobre um muro alto caiado de restos e fragmentos de onde forjei meu caráter. Pessoas me alimentaram; fizeram-me dormir, manusearam meus sonhos e instigaram meu paladar. Sorvi vívidas lembranças de tudo que não vivi, de tudo que não sei e ainda aprendo. De tudo que aprendo nada é aproveitável senão o fato de nada não existir sozinho. E só.
Amargura foi minha infância; tristeza. A adolescência correu entre pálidas sombras de pessoas que vivem, mas que há muito já morreu. Sinto seu respirar, seu hálito de pequenezas, seu olhar perdido no fútil, na vida encarcerada. Presos por mim mesmo e pela própria mente num círculo de imundície, TV, e hipocrisia. De volúpia insensata e de luxúria comedida.
Estudei dos melhores o pior e da vida suas virtudes. Dos sábios as tolices e dos loucos a razão. Conheci dos ébrios a verdade e dos padres idem. Gostei mais dos ébrios. Amei mulheres grandes do alto de seus saltos e pequenas por sua lucidez. Amei homens por sua força e volúpia; odiei-os por sua estranha mania de ser deus por um dia. Vesti-me de ódio, de cólera, de verdades fiz meus mantos e reguei todos. Tingi os dentes de púrpura ao morder o céu da boca. Montei castelos de palavras pra somente depois desmontá-los com meu sexo. Impune, trafeguei entre as prostitutas, os vândalos, os mártires, os loucos e os crédulos. Saí.
Voltei inúmeras vezes ao ponto de partida. Sequer saí de lá. Levei cântaros de azeite aos pobres e com eles me deitei. Dei de mim o que não prestava e absorvi tudo em dobro. Do medo da velhice escutei mentiras e revolta. Dos sonhos fui o calabouço e o maior de todos eles. Até acordar pelas mãos do meu amor.
Ao amadurecer cheguei a breve conclusão:
É...
A vida realmente é surpreendente.

2 comentários:

Ana Claudia Piffer disse...

Aplausos amore! Arrepiei... Vc é incrível com as palavras, toca fundo no coração da gente!
Muitos beijos dessa tua fã!

Cynthia Brito disse...

Você escreve bem, Adriana. E, aliás, tem um blog muito legal. Virei aqui mais vezes. Obrigada pela visita e pelo convite em meu blog! Beijos.

Com amor,
Cynthia

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