quarta-feira, 4 de maio de 2011

Trecho do meu livro - " Voo da estirpe" (editora Baraúna) LANÇAMENTO EM BREVE!!!



Seus passos eram apressados. Ele deixou o cinema e atravessou a rua; pus-me a andar quase correndo. Ao atravessar a rua senti uma sensação ruim, como se aquela cena já tivesse acontecido antes, um dejavú em plena perseguição necessária.
 Percebi um carro passando por mim e parecia um mau presságio, me senti como se tivesse sido atropelada; arrastada por um peso e continuei apressada, deixando para trás a sensação de algo que não queria sentir agora; continuei caminhando apressadamente, mas com a impressão de que algo havia acontecido ou iria acontecer, pois não percebia meu corpo, era como se algo etéreo invadisse todo o meu ser e meu corpo estivesse mais leve, estava obcecada para saber quem era aquela pessoa. Comecei a suar com o cachecol antigo enrolado no pescoço.
O excesso de pessoas me deixava cada vez mais solitária, estavam todos em um pequeno tumulto em volta de algo parecido um acidente que acabara de ocorrer bem atrás de mim, na mesma rua que atravessei. Um misto de solidão e vazio percorreu meu pensamento. Senti uma espécie de tontura; tristeza e desligamento de algo; uma sensação que se parecia com depressão, ou baixa imunidade; não sei... Sensação estranha invadiu-me, sabia que tinha acontecido alguma coisa, mas não sei dizer exatamente o quê. Algo quente subia pelos meus pés e o ar parecia mais puro, mas a minha mente estava em confusão, não sabia se estava sonhando ou se estava acordada. Uma liberdade súbita invadiu o meu ser, mas um pesar também. Era como se eu tivesse morrido. Apesar de não saber como é, eu sentia no coração que chegara o momento de uma grande embarcação para algum lugar e isso vinha junto com o desejo de despedida.
 Comparei-me com aqueles outros seres que estavam em volta do acidente de modo diferenciado; não sentia o desejo de constatar o que havia acontecido com o pobre corpo que estava atirado no chão. Era o grito de meu medo. Estava com receio de confrontar comigo mesma, mas sou responsável por mim, e hoje, escolhi ir para casa inconformada, olhando para os meus pés enquanto andava; eles me faziam companhia, e muito mais que isso, me davam a direção;  me conduziam para o lugar seguro, o esconderijo que me guardava dos meus conflitos internos; preciso amar e respeitar meus limites; não me crucificar por estar a beira do quase, há anos...
 O vento batia em meu rosto, estava friozinho, mas mesmo assim, eu sentia um calor quase que insuportável. Ele era rápido, certamente me percebia atrás dele, como o percebi atrás de mim o tempo todo no cinema. Entrou em uma banca de jornal. Fiquei o esperando pelo lado de fora. Angustiada, passei a roer as unhas, olhando para os lados para ver se ninguém via. Passou alguém pedindo esmola, eu não queria perder o estranho de vista, mas não negaria a esmola. Abri a bolsa e peguei o dinheiro da carteira. Agora estava claro e pude olhar para dentro de minha bolsa mais atentamente. Havia um bilhete lá; ou, eu lia este bilhete agora, e perdia de vista o meu estranho, ou lia em casa, e continuava minha perseguição. Dei o dinheiro ao mendigo e voltei a atenção para a minha caça, mas sou péssima nisso, em minha distração com a esmola, o perdi. Olhei para dentro da banca do jornal e ele já tinha desaparecido. Olhei para todos os lados e não o vi em lugar algum. Desapareceu como a um fantasma. Frustrei-me; deixei meus ombros caírem e suspirei profundamente; pus as mãos entre os cabelos tentando me conformar... Acho que acabei de enlouquecer de vez, sem saber como seria lidar com este dia que se perdeu entre as contas dos minutos que não iriam passar. O bilhete... Novamente meu coração disparou, e por um motivo justo... A ânsia de ler o bilhete todo de uma única vez, não iria me fazer chegar logo em casa; fazer um chá e sentar tranquilamente imaginando o que estaria escrito ali. Peguei o bilhete e sentei no murinho do canteiro na calçada. O papel estava dobrado em quatro e escrito em letra corrida na primeira dobra - para você, leia!
“Você, tão linda, sentada inquieta, com mãos inquietas e curiosas, e eu aqui tentando imaginar o que acontecia em seu universo enquanto estive sem você... Clarice; vou reencontrá-la.”
Era somente isso.  Ele sabia meu nome. Poderia ser o fantasma de Klaus, ou, a minha loucura instalada em um subterfúgio que me levaria a escapulir da saudade. 

Um comentário:

Fernanda Araújo disse...

WOW OO
Eu quero ler!
Adoro livros assim
Perseguição
Alucinação ou um perigo à espreita hehehehe
Adorei a poesia lá no blog =D
Animou o meu dia!

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