Um trecho do primeiro livro de Almakia - A vilashi e os Dragões:
— Conta a história, Mira! – Mio-lin pediu praticamente pulando no mesmo lugar, e foi seguido pelas outras crianças que apoiavam a ideia.
— Certo. – ela concordou, assumindo o que Garo-lin classificou ser a atitude de professora da irmã. — Como começa mesmo?
— Quando existiam os dragões! – responderam as crianças empolgadas, como se a resposta fosse a palavra-chave para
destrancar um baú de histórias.
— Exatamente! – então Mira-lin escondeu o sorriso, e adotou um tom mais sombrio para começar a contar. – Em uma época muito antiga, quando ainda existiam os dragões e eles usavam almaki sobre todas as terras, aconteceu uma grande batalha. Todos os tipos de dragões começaram a lutar, disputando qual almaki seria o líder de todos. Por muitas noites, os céus ficaram iluminados e estrondos faziam o chão inteiro tremer.
“Escondidos na floresta, amedrontados, os povos que não tinham almaki ficavam sem poder fazer nada e apenas esperavam que tudo terminasse, mesmo que qualquer amanhã depois disso fosse incerto. Porém, eles precisavam de água, e todos os dias alguém tinha que sair para buscar na fonte. E tudo aconteceu no dia em que Gu-ren era a responsável por encher o jarro. Gu-ren era uma menina valente, mas mesmo assim o jarro tremia em suas mãos durante o caminho escuro até a fonte. Porém, nada aconteceu até ela mergulhar o jarro na fonte. Foi exatamente nesse momento que ela viu algo refletido na água: um brilho amarelo em meio à escuridão. No mesmo instante houve um rugido escurecedor e ela fugiu, deixando o jarro para trás. Mesmo sem olhar, Gu-ren sabia o que era: um dragão imenso! Enorme! Com olhos amarelos que brilhavam furiosos por ter encontrado aquela estranha no seu caminho, e com a boca repleta de dentes afiados prontos para devorá-la! Aarrrrrr!”
Mira-lin fez gestos amplos com a mão sobre as crianças, e muitas se encolheram e soltaram gritinhos de quem estava se divertindo.
— Dragões não comiam pessoas! – Dul’Maojin reclamou para Garo-lin, que se limitou a fingir que não tinha ouvido o comentário.
— Gu-ren sabia que não podia escapar das garras de um dragão. – Mira-lin continuou. – Mas não podia simplesmente se deixar devorar. Quando os passos estavam muito próximos dela, por sorte percebeu que aquele lugar era perto de uma gruta onde brincava com os seus irmãos. Então ela se embrenhou no mato, confundindo o dragão e ganhando tempo. Sendo uma menina esperta, correu para a parte mais estreita da gruta, e rastejou pelo caminho que diminuía conforme avançava. Então, saiu por uma pequena abertura, e foi a tempo de ver o dragão desaparecer na entrada grande da gruta. Mas ele não conseguiu passar pelos caminhos estreitos. Ficou preso, já que era enorme.
“Furioso, ele rosnou, se remexeu, sacudiu, se debateu com tanta força que a gruta ruiu e o esmagou. Gu-ren, sã e salva, viu quando o corpo do dragão explodiu com todo o seu almaki, fazendo todas as pedras em volta virassem pó, e tudo o que restou foi o coração vermelho e brilhante. Então, Gu-ren voltou para a sua família levando o coração consigo. E quando a batalha dos dragões terminou e tudo ficou em silêncio, todos puderam sair dos esconderijos e voltar a viver sem medo em suas vilas. Gu-ren enterrou o coração na sua horta, esperando que o almaki dele fizesse bem à sua plantação. Mas a sua surpresa foi muito maior, porque no lugar em que havia enterrado o coração do dragão... – ela fez uma pausa dramática, olhando com um sorriso para todos os rostinhos ansiosos na sua frente.
— O quê? – perguntou o Dul’Maojin, que prestara tanta atenção nos últimos momentos da história ao ponto de não piscar, se contorcendo em sua lugar para saber do desfecho.
— Nasceu um pé de tomate! – Mira-lin finalizou feliz, fazendo um tomate escondido aparecer milagrosamente entre as suas mãos e arrancando aplausos entusiasmados da sua plateia. — E é por isso que são chamados de tomates Gu-ren!
— Como assim um tomate?! – o Dragão de Fogo pediu indignado para Garo-lin, como se fosse culpa dela a história ter terminado daquela forma decepcionante.
— É só uma história! – ela reclamou. — Cada vila conta de uma maneira. Em Durin é um morango.
Um comentário:
Adorei o trecho!
J.C.Hesse
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