segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Em busca do Baté! (Parte III) 14/10/2013

Luis acordou com um som que a muito tempo não ouvia, um canto que preenchia a sua imaginação, como o Sol que ilumina as manhãs sem nuvens. Fechou os olhos e permitiu que sua alma fosse remetida aos idos tempos de moleque. Agradavelmente hipnotizante, sentia que não queria mais levantar, ficou deitado, escutava a melodia. Era um destaque dentre todas os outros cantos. Então, um breve silêncio, um bater de asas e uma pequena ave de plumagem, entre o avermelhado e o marrom claro, pousou em sua janela. As aves já recomeçavam a cantar, quando foi surpreendido pelo piado do pequeno visitante, era um Uirapuru, que cantou novamente. O canto durou apenas um minuto, foi o suficiente, saltou de sua cama, renovado e desperto, espantando a pequena ave.

O Sol já tocava o teto de sua casa, penetrando pelas frestas, como que, também, cobrando o início da jornada. Juntou uns pedaços de pão de mandioca, algumas raízes e saiu roendo. Na cabeça um chapéu de palha, no corpo todo o guarda-roupa, não precisava de mais. Deixou para trás sua casa, entregue à sorte das intempéries. O fogo dos archotes ainda ardiam e ficariam assim por mais um dia e meio. Passo decidido e olhar no horizonte, nem o peso das tralhas o incomodava.

Duas horas depois, o primeiro grande sinal de água, ou do que já fora um lugar de águas, de vida. Era o vilarejo vizinho, as casas eram apenas amontoados de madeira. Sua vila ainda não havia desmoronado, pois ele estava sempre concertando algo, mas ali... Passou em silêncio, não olhou mais nenhuma vez para trás. Uma centena de metros à frente, começou a assoviar, sentia a necessidade de ouvir algum som diferente do arrastar de seus passos. Mais à frente parou, mediu a sombra e concluiu que deveria estar perto das dez horas e seu corpo pedia alimento. Encontrou um barranco e aproveitou a projeção de sua sombra, sentou, comeu e resolveu tirar um leve cochilo. Colocou seu facão por debaixo do corpo, de maneira que poderia alcançar facilmente, caso fosse necessário se defender.

Acordou com o som de galhos secos, quebrando. Antes de abrir os olhos completamente colocou a mão por debaixo do corpo e segurou o cabo do facão. Procurou identificar a origem do som, teve dificuldade. Assim que ergueu o corpo, o som afastou e sumiu, era mais acima, no barranco. Como um gato, saltou e correu, subiu no barranco, mas ninguém, ou nada, estava ali. Olhou a sua volta, procurando por algum sinal, nada. Mas ao olhar para baixo viu marcas de pé, na terra. Fosse quem fosse, esteve olhando para ele, enquanto dormia. O mais estranho é que só havia uma única pegada. Concluiu que o sujeito saltou e correu, provavelmente estaria escondido em algum lugar, que ele mesmo não tinha a intensão de procurar. Dali para frente ficaria mais atento, ergueu o braço, mostrando o facão.


Parte II   Parte IV

Texto e criação do autor J.C.Hesse, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.

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