sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A população mundial é estúpida


A população mundial é estúpida. 
Aliás, a população mundial é muito estúpida. Cada vez mais, a população mundial ziguezagueia pelos tenebrosos caminhos sem fim da ignorância e estupidez. Não, não se trata da evolução de espécies de Darwin a fazer-se sentir. Não, não é devido ao (suposto) aproximar do fim do mundo. Tudo se desmistifica com uma palavra apenas, assim, simples, um conjunto de letras ordenadas: influências.
As minhas e as vossas crenças e opiniões, enfim, personalidade, não são mais do que um desprezível conjunto de influências que nos moldaram desde o dia que nascemos, cruamente, sem pudor algum e apenas com uma meta: ver, em nós, influenciados, a sua imagem. Ser influenciado é deixar de pensar os seus próprios pensamentos, é deixar de arder com as suas próprias paixões: é deixar de viver a sua vida. É o reflexo no espelho de uma imagem diferente da sua, é o eco de uma voz que não lhe pertence.
Deixar-se influenciar é deixar-se encurralar num compartimento miserável, sem luz e sem ar, nu, com os olhos vendados e amordaçados, e ver as suas ideias e ideais espancadas de forma rude, repelente, repulsiva e repugnante. O agredido, resignado e impotente, rende-se e torna-se num zumbi de personalidade: caminha sem sentido aparente pela vida, sem uma réstia de pensamento ou criatividade que seja, limita-se a seguir o que lhe é mais conveniente sem sequer saber como é que isso é mais conveniente: está confortavelmente morto. E a única coisa pior do que estar morto é não querer estar vivo. Individualidade? Só a ouviu em histórias de fantasia. Rasgos de genialidade? Isso existe? Ser diferente? Um arcaísmo. Vive de forma obtusa, pois sabe que o seu tempo de vida não será mais que uma transitoriedade constrangedora: nascer, aguentar e morrer.
E tu, vês-te neste retrato?

Postagem de Adriana Vargas



Texto e criação do autor Gajofine, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.




AO AUTOR ENTREVISTA
MARCOS NUNES


1 – Fale-me sobre você.

R - Sigo o princípio do cineasta norueguês Carl Dreyer: minha obra é interessante, eu não.

2 - Quem te iniciou na literatura?

R – Ninguém em especial; pais, pouco, professores, mais; curiosidade, um pouco mais.

3 - Como surgiu a idéia de escrever livros?


R – Do anseio de por em prosa e poesia a confusão de signos que vagavam em minha mente e surgiam em disparos neuronais aleatórios; forma é disciplina, mas disciplina fundamenta enganos, e tenho me enganado desde os 13 anos. 

4 - Quando surgiu a idéia do 1º livro?

R – Não me lembro exatamente, mas de uma escolha em dado momento histórico que poderia marcar o ápice de um ciclo de erros políticos e existenciais no Brasil, que corresponde à explosão de uma crise com todas as suas possibilidades criativas. 

5 - Como está a luta para a publicação dos livros?

R – Não luto muito; já o fiz, sem êxito e, diante de um universo de exagerada profusão textual, hoje limito minha produção à condição de presente anual a meus pobres amigos e parentes. 

6 - Como foi a recepção pelos os blogs literários?

R – Razoável, mas não muito bem expressa e com regularidade.; Algumas manifestações de apreço, uma bem específica, outras um tanto genéricas e certamente devido à mania da “boa educação”, que obriga ao elogio do alheio enquanto espera colher elogios de volta. 

7 - E com as Editoras?

R – Péssima recepção. Somente cartas dizendo que o livro tem suas qualidades, mas... e etc... Cartas-resposta padronizadas.

8 - E com os leitores?

R – Alguns apreciam o livro que ponho agora à disposição, o primeiro entre outros. O clima pesa um pouco; os fatos narrados de regra não são leves, há cenas escabrosas e o sarcasmo é intimidante.

9 - Através das suas experiências, o autor iniciante possui quais desvantagens? Descreva

R – Relacionamentos privilegiados com editoras. Às vezes o autor não precisa ser bom, ou ter escrito um livro de interessa; na maioria das vezes basta ele ter bons amigos em posições certas. Se é mais atirado, pode chegar a algum lugar; quando é mais reservado, como eu, e tem dificuldades de relacionamento social, as chances são mínimas. Ademais, há o problema da qualidade do texto, que sempre precisa de uma revisão profissional, que alguém como eu, por exemplo, não pode pagar. 

10 - Qual sugestão você daria hoje para quem está publicando o seu primeiro livro?

R – Que tenha muita autocrítica e conte, primeiramente, com leitores qualificados que possam indicar caminhos e, se possível, efetuar uma boa revisão do texto. Se passar pelo crivo dos primeiros leitores, sendo eles tão honestos em seus julgamentos quanto amigos (na verdade não precisam ser amigos), vá em frente, mas sem muitas ilusões, porque o funil é estreito: quando morreu, Kafka, vale o exemplo, não era ninguém na literatura. 

11 - Como tem trabalhado a divulgação de suas obras? Tem havido resultados?

R – Divulgo alguma coisa em blogs, mas sem muita ênfase e muita difusão. Aqui e ali, preguiçosamente, como é do estilo preguiçoso.

12 - De que modo você vê hoje, a literatura no Brasil? O que está faltando para melhorar, ou se você acha que o quadro já tem melhorado?

R – Não vejo a literatura em termos territoriais; no mundo inteiro a literatura se ressente de esgotamento formal e indisposição criativa. Os escritores contemporâneos repetem fórmulas assentadas e não existem mais novas técnicas literárias; tudo lembra algo que njá foi feito, mas quase sempre pior. A última novidade, por exemplo, é o autor chileno Roberto Bolaño, já falecido. Hoje lemos livros recém lançados de um autor morto. 

13 - Qual a participação do escritor na vida do leitor? De que modo você acredita que seu trabalho possa influenciar na vida do leitor?

R – O escritor é uma via de acesso a um universo vasto, à polifonia, ao diálogo sem precisão, sem definição, sem imposição de caminhos. Quanto o escritor quer “educar” o leitor, escreve panfletos de autoajuda, quer em ensaios quer em ficções mal ajambradas. Não penso em influenciar a vida do leitor; apenas em fazê-lo passear pelos meus textos, provocar sua reflexão, e seus sentimentos, quaisquer, desde a alegria até o asco. No final, ele põe o livro na estante, e a vida é toda dele, o que quer dizer também toda nossa. 

14 – Quer falar algo para os leitores?

R - Não muito; somente que: não leiam pensando em extrair dos livros conhecimento puro e acabado. A vida é uma interseção que ocorre em ti com o cruzamento de todas as coisas do universo. Não é de sua natureza possuir nem sentido nem propósito, mas somente existência, e breve. Bem, já foi demais. 

15 - Algum pensamento ou frase de efeito?

Tenho uma pequena frase que define, para mim, se não a condição humana, ao menos minha própria condição: “Perplexidade aflita diante da perspectiva caótica”.



OBRA DE MARCOS NUNES


O romance em questão faz um apanhado polifônico dos usos e costumes brasileiros, da política à sexualidade, dos hábitos de consumo àqueles mais especificamente culturais, e traça um panorama nada favorável aos desdobramentos de nossas vidas, quer no âmbito pessoal, quer no político. O tom, porém, é humorístico, apesar de corrosivo. Como é panorâmico, a quantidade de personagens chega a cem, embora a maioria deles atue em poucos capítulos ou mesmo linhas. O título cruza três referências; a primeira tem origem na conhecida frase humorística acerca dos destinos do nosso país (cujo nome também não é citado uma única vez no romance, por desnecessário), “o último a sair apaga a luz”, amalgamada à novela de Tolstoi (A morte de Ivan Ilitch) que é lembrada pelo personagem à morte no último capítulo, e ao pedido atribuído a Goethe, célebres últimas palavras que alguns dizem nunca pronunciadas: “Luz, mais luz!”.

Obrigada MARCOS NUNES, o clube dos novos autores agradece a sua participação!

16 comentários:

Wagner Lira disse...

Parabéns Marcos nunes, pelas suas colocações.

"Relacionamentos privilegiados com editoras. Às vezes o autor não precisa ser bom, ou ter escrito um livro de interessa; na maioria das vezes basta ele ter bons amigos em posições certas..."

@ Moda e Eu. disse...

Texto muito bom, ótima entrevista *-*

Beijo

amandio sales disse...

Este é um texto muito bom quando você cutuca mesmo!
Por isso sou teu fã desde o inicio, beijos mil!
Amandio Sales

Unknown disse...

ótimo texto e gostei das perguntas da entrevista! muito interessantee

Anônimo disse...

Venho não apenas agradecer a presença e comentários, como para informar que, a partir de hoje, estou a escrever e publicar um romance em blog, com um capítulo a cada dia, somente nos dias de semana, exceto feriados. Como já disse, sou meio preguiçoso, mas a publicação deste romance em blog será uma obrigação a cumprir, e às obrigações costumo aceder sempre. O título é "Há rumores de vida em Marte", o endereço é http://harumoresdevidaemmarte.blogspot.com/.

Agradeço antecipafamento a leitura e divulgação.

Obrigado.

Marcos Nunes

Rosane Fantin disse...

Gostei muito das respostas do Marcos. Excelente entrevista!
Parabéns e sucesso com a publicação!

Cleide disse...

Mto bom!!!
Obrigada pelo incentivo...
Bjosss

LUCONI MARCIA MARIA disse...

Adriana meu anjo escolheste um excelente texto para postar, quantas e quantas pessoas não vivem, deixaram de viver, apenas existem, muito bom texto e alerta, sempre há tempo para se dar o grito do basta, sempre há tempo.
Muito boa a entrevista com Marcos Nunes, excelente parabéns aos dois, beijos Luconi

Aline T.K.M. disse...

Ótimo texto, disse tudo.
Gostei muito da entrevista, principalmente em relação às relações escritor-leitor e escritor-editora.
Infelizmente o "conhecer as pessoas certas" ainda pesa muito, não só no campo da literatura, mas em todas as áreas profissionais.

ONG ALERTA disse...

A vida é uma só as vezes quando as pessoas se deram conta...já era...beijo Lisette.

Marli Carmen disse...

Muito boa a entrevista! parabéns a todos!!
beijinhos!

Cesar S. Farias disse...

O texto e a entrevista encaixam-se na medida. Marcos, me junto á ti para dizer não ao comodismo e sim à literatura provocativa.

Abraço

Fernando Soares disse...

Animais sociais que somos, recebemos influências até de nossos pais. Desafio gigante definir a própria personalidade em um mundo consumista e massificante. Não é à toa que é tão tênue a linha que separa a genialidade da loucura.

Fernando Soares disse...

Adorei a entrevista com o Marcos Nunes e me identifiquei muito com suas ideias, principalmente as que falam sobre a influência sobre o leitor e o estilo preguiçoso. O conhecimento não é algo puro e acabado: "falou e disse"!

neneka disse...

parabéns por sua entrevista marcos,cada um tem um ponto de vista e respeito o seu.sucesso.

Unknown disse...

Parabenizamos ao autor Marcos Nunes pela sua simplicidade e naturalidade na colocação do que motivou a escrever.
A escrita quando surge de pensamentos que vão formando idéias sem ao menos planejar. É aí que nasce uma grande obra.
Sucessos!
Beijos
Irene / Vivian

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