terça-feira, 1 de maio de 2012

O tempo da vida é que vale


Um banco, rusticamente talhado em madeira, na beira de um grande lago, o cenário é um clichê. Só que o pefume da região e o clima mudava a alma de qualquer ser que pisasse por ali. É um ponto de repouso de aves cantoras, que pousavam e cantavam contemplando, ao fundo, uma cadeia de montanhas. Estas, com as copas recobertas de neve também eram testemunhas da vida. Assemelhavam-se a enormes montanhas de chocolate, com cobertura de creme de leite.Sentar naquele banco arrepiava a pele, tantas foram as declarações de amor que ali foram proclamadas. Frases, poesias e declarações ainda flutuavam ali.

À beira do lago, árvores perfeitamente arranjadas, provavelmente resultado de reflorestamento. A vida transbordava de dentro da "pequena selva" que cercava aquele lugar. Era o ingrediente final, quem sentasse no banco ouviria uma enormidade de sons, eram de pássaros! Um som teimoso, confuso aos menos atentos, resultado do grande número de espécies que ali se juntavam, mas também era melodiosamente gostoso. Em alguns instantes o silêncio se fazia presente e apenas um pássaro, mais teimoso ainda, o cortava com seu canto, com certeza um Bem-te-vi.

Entre as árvores e o lago uma enorme casa, provavelmente do século XV ou XVI, com paredes de pedra, feita certamente para resistir ao tempo. O implacável tempo! Que nada perdoa e nada condena, assiste silenciosamente o passar das vidas e dos amores. A casa, com suas paredes parcialmente recobertas por uma espécie de trepadeira, resistia. Em alguns pontos, aquela ramagem quase chegava ao telhado, em outros já o havia começado a escalar. Abaixo, possuía uma pequena varanda, com espaço suficiente apenas para uma pequena mesa, ladeada por duas cadeiras. Ao longo do tempo esta casa foi, provavelmente, a única "testemunha" diária e noturna de tão deslumbrante cenário.

Mas o que se destacava no meio de todo o verdejante cenário era um pequeno jardim, recheado de rosas vermelhas. Um vermelho tão vivo que parecia ter sido pintado ali. E quase no meio deste jardim, protegida por um exército de espinhos, pendia de um dos galhos, uma rosa branca. Estava começando a desabrochar. Parecia mais uma intrusa, pois sua cor branca como a neve era como uma gota de óleo n'água, todas as outras rosas... eram vermelhas, tão lindas quanto a branca. Mas por ser branca, era única, alí.

Da casa, através de uma janela aberta "alguém a observava", contemplando sua alvura, assim como também admirava o lago, as montanhas e todo aquele verde. O olhar, se é que o tinha, partia de dentro de um vaso, que assim como a casa, pertencia ao século em questão. O olhar era de uma rosa vermelha, plantada carinhosamente naquele vaso. Recebia a luz do mundo externo em suas pétalas e quase parecia sorrir para tudo o que se passava do lado de fora. Daquela posição o que mais lhe chamava a atenção era o jardim, antiga morada, e neste jardim a rosa branca.

Contemplava sua beleza e lembrava-se de quando fazia parte daquele jardim. Lembrava-se, com uma deliciosa saudade, do tempo em que o sol da manhã lhe secava o orvalho, que a noite lhe depositava nas pétalas. Do tempo em que as abelhas a visitavam e carinhosamente pegavam seu néctar e em troca a polinizavam. Teve uma vida feliz naquele jardim, ela foi a mais assediada e gostou muito disso também.

Se sentia feliz, nada do que se queixar, afinal, tinha água o suficiente e claridade. Enfim, ficar dentro da casa até lhe prolongava a vida. Tinha orgulho de saber que só estava ali por um ato de amor, pois fora oferecida em um dia dos namorados. Fora um presente carinhoso dado à doce senhora que ali morava com seu amor. Mas o que lhe fazia bem mesmo eram as conversas que tinha com a doce senhora, era a melhor parte do dia. Enchia-se de alegria quando a doce senhora sentava-se de frente com ela e dizia que ela estava cada vez mais bela.

Se fosse possível, ela não saberia como responder, mas tinha certeza de que a doce senhora sabia que ela gostava de ouvir aquelas palavras e as histórias de amor da senhora. Talvez fossem essas palavras amorosas ou a água sempre fresca banhando o seu caule, difícil dizer, mas uma coisa era certa, os dias se passavam e a rosa mantinha-se viçosa, tal e qual o dia em que fora colocada ali.

Numa bela tarde a rosa percebeu uma grande agitação no vaso e logo viu a chegada de uma companheira, uma linda rosa branca e mais que depressa a rosa vermelha torceu-se e olhou para o jardim. Não viu a rosa branca, abriu-se ainda mais de felicidade, pois tinha dentro do mesmo vaso aquela por quem tinha grande admiração. Achava-a linda em sua brancura sem fim, sentiu que a paz e a paixão estavam juntas, como se fosse possível.

Esperou que as coisas se acalmassem para iniciar uma conversa e tirar o atraso, papo de flor entende. Para seu espanto a rosa branca manteve-se de costas para ela. Pouco tempo depois iniciou um ciclo de reclamações que pareciam não ter fim. Queixava-se do vaso, da sombra e da falta de sol, da água e de quando "aquela velha" ficava falando sobre o amor. Lamentava a distância do jardim e de ainda ter que dividir aquele "vaso velho" com uma "rosa velha".

Sempre que a rosa vermelha tentava um contato a rosa branca se torcia em seu caule e ficava virada para o lado contrário do vaso. Nada a agradava, aliás, tudo a incomodava. Todo aquele esforço e aquela mágoa a impediu de desabrochar completamente, logo parecia mais velha que a rosa vermelha. Suas pétalas foram caindo e foi ficando arqueada. As pétalas que restavam estavam cada vez mais amarelas e quebradiças, logo não sobrou nada além de um caule torto e murcho, ela não resistiu.

A rosa vermelha lamentou ter acompanhado o fim de algo tão belo, mas percebeu também que sem amor. O amor incondicional pela vida, nada sobrevive. Chegou à conclusão que "sem a vida, até a morte deixaria de existir". Voltou a contemplar o cenário maravilhoso e de vez em quando dormia embalada por aquela voz doce lhe dizendo que era especial.

Os dias se passaram e ela também se foi. Ela era especial e lá no jardim ela tornou-se inspiração para muitas rosas que esperavam poder ocupar o lugar daquela rosa especial. No fundo, até o lago e as montanhas compreenderam que a vida daquela rosa foi efêmera e passageira, mas foi vivida na sua plenitude, tornou-se lenda.

Quando se abre o coração percebe-se que não é o tempo de vida que vale, mas o que se faz durante este tempo.

A terça-feira é momento J.C.Hesse, onde coloco minhas postagens e também disponibilizo-o a quem tem algo a dizer.

Quer saber onde fica o meu novo canto virtual? Aqui em J.C.Hesse

3 comentários:

Ahtange Ferreira disse...

Olá passando para conferir e gostei muito.
Muito lindo o texto parabéns!

Fabiana Cardoso disse...

Nossa que inspiração , adorei o texto, me fez refletir sobre as nossas atitudes diante da vida!
Abraços Fabi

Mia disse...

Parabéns!
Ficou ótimo como todos os outros que li.
Sucesso!!!

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