terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ainda posso


Num instante de fúria, jogo quase tudo ao chão. Faço um arrastão com a mão, por cima da mesa. Sobre ela, fica apenas a borracha, o lápis e o caderno.
Segundos de silêncio. 
Estou olhando para o caderno, perto do precipício da mesa, junto com o lápis. Ambos impedidos de cair, pela propriedade de aderência da borracha. Talvez, naquele momento, para os dois, fosse uma heroína. Penso que deveria acabar com o impasse empurrando-os, só para ver cair.

Mas, de assalto, ocorreu-me que os três possuem uma fina ligação, todos vieram da natureza. Originalmente de árvores. A borracha, enquanto seiva, corria pelos veios da seringueira, alimentando-a. Mas foi arrancada de sua morada, para ser moldada e servir a outros propósitos. Recebeu outros ingredientes e deixou de ser o que era. Colocada numa forma, resfriada e moldada. Colocaram-lhe um preço e mandaram para a prateleira. Quando foi comprada, ainda não tinha ideia de qual seria a sua função, salvadora da "pátria".

De outra árvore, seu melhor amigo, o lápis, também passou por processos desgastantes. Foi mais trabalhado, ganhando um grafite e a característica de deixar marcas, por onde passasse. O caderno? Este, também é produto de uma árvore. Enfim, estariam próximos, mas por erros de outros, a borracha acabaria apagando tudo o que o lápis escrevesse no caderno. Não pensem que o lápis não fica chateado, até agradece. Mesmo porque, nunca quis escrever. O caderno, evitava reclamar, mas escreviam muita informação errada, em suas páginas. Os erros lhe davam coceira, que a borracha ajudava a tirar.

O sonho dos três? O lápis e o caderno, querem voltar a ser árvore. A borracha, quer ser, novamente seiva. Viveram tão próximos, como árvore e seiva. Agora, estão fadados a viver fazendo e desfazendo. Tudo tem seu lado bom, um dia voltam para a natureza.

Melhor pegar tudo o que joguei e recomeçar, afinal, eu posso! Ainda posso!

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Texto e criação do autor J.C.Hesse, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.

2 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Belo texto!

Ordem do Saber disse...

Muito bom!
O que seria de nós sem a natureza?
Nós mesmos somos parte da Criação e estamos interligados em tudo.

Um bom domingo.

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