domingo, 2 de setembro de 2012

PARTICIPANDO DE UMA BIENAL SEGUNDA E ÚLTIMA PARTE

Eu poderia dizer que tive as provas de que a tal "Lei de Murphy" existe e que a Murphy me odeia. Rs. Pois tudo ou quase tudo o que planejei não saiu como os planos. Por exemplo, em minhas idas e vindas para São Paulo em busca das coisas acabei comendo algo que me fez mal. Ou talvez tenha sido apenas a ansiedade. Como os médicos parecem ter se formado com apenas duas opções de respostas: virose ou stress; fica difícil de adivinhar. O fato é que comecei a bienal como que foi diagnosticado como Intoxicação Alimentar. Em resumo, quando compareci com a minha princesa devidamente trajada para o evento, só estava presente em corpo, que a alma tinha ido dar umas voltinhas. Os meus três primeiros dias foram perdidos nisto e numa série de desventuras. Então posso dizer que só comecei a aproveitar a bienal a partir do quarto dia, quando finalmente reencontrei a danada da alma na porta de casa toda felizinha depois de 3 dias de farra. Sou uma frequentadora antiga de bienais. A minha primeira foi em 86 e desde então não perdi mais nenhuma. Mas eu que me considerava calejada em bienais (pelo menos na de São Paulo) verifiquei que existe uma grande diferença em participar dela como autora. É engraçado observar as pessoas entrando em hordas com um ar de espreita no rosto. Imagino que se caçadores entrassem em um campo repleto de caça teriam o mesmo rosto. Fiquei feliz com a multidão mas percebi depois de algum tempo que a chance de alguém entrar no estande e ir até o meu pobre livrinho no auto de uma prateleira era menor do que a de ganhar na mega sena. Comecei então a observar os outros autores. Existem os autores vendedores, os autores argumentadores e autores de exposição. Naquele momento eu me enquadrava no último. Lógico, essas categorias fui eu quem criei. Existe uma outra categoria que eu ainda detectei que são os autores de pose. Mas desses não vou falar pra não criar animosidades. Rs. Como autora de exposição eu apenas aguardava passivamente o interesse de alguém. Passei um dia sem fazer nada pois obviamente, as pessoas não se interessam por aquilo que desconhecem. Durante os dias de semana não podia contar com as meninas fazendo o cosplay então eu estava "em um mato sem cachorro". Pensei em fazer um outro tipo de abordagem no outro dia. Na verdade, minha família que passou a se acostumar a perguntar como estava indo me puxou a orelha quando relatei meu dia de vaso na bienal. É fácil explicar isso pois eu venho de uma família de pequenos comerciantes. Toda uma geração de feirantes, donos de bancas de jornal, pequenas lojas de roupas e limpeza. Tive toda uma aula do que poderia e não poderia fazer e muitas broncas. No final, pensei que eles estavam mesmo certos. Afinal eu tinha feito um bom investimento. Precisava ao menos aprender um pouco com isso. Enchi minha sacola de marcadores de livro e fui a luta. Observando percebi que a abordagem precisava de um bordão. Existia a abordagem agressiva e a abordagem indireta. Eu, enquanto compradora, odiava a abordagem agressiva mas pensei que talvez pudesse tentar a abordagem indireta. Não tinha como ser uma vendedora mas poderia ser uma professora e ensinar sobre os meus livros para quem estivesse interessado. Esta ideia me trouxe algum alento. Nunca tive alguma afinidade com vendas. A abordagem indireta é mais cara. Você entrega algo e assim ganha uma vantagem sobre quem está recebendo, pois essa pessoa tem uma tendencia a lhe dar algo em troca. No meu caso, eu comecei a oferecer marcadores de livro. Isso para mim já foi um começo. Me forçar a me expor para estranhos não é uma tarefa fácil pois, apesar de não ser tímida, não sou exatamente a pessoa mais sociável do mundo. Verificando que era fácil entregar o marcador, iniciei a abordagem. Perguntava se as pessoas gostariam de conhecer o meu livro. Percebi que as pessoas se sentiam curiosas em me conhecer como autora. Isso facilitou um pouco o processo. Fui criando a rotina de oferecer o marcador e dar uma aula rápida sobre os livros. Eu ainda gaguejava mas consegui vender alguns nesse dia. O outro dia não consegui abordar tantos e também percebi que não poderia bancar uma oferta tão grande de marcadores. Como poderia chamar a atenção sem isso? Pensei então em usar as lentes de gato. Já as tinha comprado mesmo. Coloquei-as e descobri duas coisas. Brasileiro é um bicho muito distraído. A segunda é que ele adora uma curiosidade. De repente eu tinha até gente pedindo pra bater foto junto. As lentes de gato atraiam a curiosidade e eu aproveitava para explicar o porque delas, expondo o meu livro. É claro que as coisas não foram assim fluidas e práticas mas foi uma boa ideia. Eu segurava o meu livro em frente ao estande com as lentes e quando alguém me encarava eu sorria, dava o bom dia e convidava. Este revelou-se um processo divertido e funcional. O meu maior problema era a lente que ficava girando toda hora e me fazia ficar com um espelhinho ajeitando. Durante a semana, teve um dia em que não pude ir de carro por conta do rodízio. Fui de metrô e verifiquei que existia uma fila enorme que se formava para pegar os ônibus gratuitos que levavam as pessoas até a Bienal. Aquele monte de gente ociosa, com tempo para ler qualquer coisa que lhe caísse nas mãos por puro tédio. Tive uma ideia e fiz uma parceria com minha família. Eles iriam se revesar distribuindo para mim folhetos nestas filas, antes das pessoas entrarem. Para que não jogassem os folhetos fora, no verso eu coloquei um mapinha simplificado da bienal com a indicação do local do estande. Então eu abordava na frente do estande e minha família nas filas de fora. Com isso, muitos chegavam já sabendo do que se tratava. Alguns até chegavam pedindo pelo livro. Minha mãe que não pagava para entrar na feira ficou como "assessora". Rs. E assim fomos indo. Mas eu ainda precisava pensar em um jeito de vender o outro livro. O Padaria que estava estreando ainda não era muito claro. Eu troquei um dia as lentes pelo avental de padeira e vi que muita gente estava me confundindo com a Palmirinha. Rs. Ou como disse um amigo mais malicioso, com a Dona Benta. No entanto, ao explicar a história mais de 50% das pessoas se interessaram em levá-lo. Então, provavelmente, a minha mensagem visual não estava correta. Um dos autores de lá também me explicou que talvez faltasse um subtítulo na capa. Fui anotando essas coisas. Senti falta de algum material infantil também. A Princesa acabava sempre gerando a pergunta de se poderia ser lido por crianças. Apesar de ter tentando criar uma história para todas as idades e de ter uma leitora mirim de dez anos, acho que talvez a história seja melhor aproveitada por adolescentes e adultos. Fui ganhando mais segurança ao longo da feira e obviamente com toda a soberba vem a ganancia. Tentei fazer a abordagem agressiva. Daquela que não oferece nada e tenta ganhar na lábia. Odiei esse processo e o descartei. Eu não me sinto bem manipulando quem quer que seja. Em especial aos mais novos, por mais fácil que seja detectar seus interesses após tantos anos dando aulas. Prefiro que a pessoa me ouça e que maneje o livro. Só por isso já me sinto grata. Deixo que eles escolham levar ou não por sentirem real interesse pela narrativa. Por conta disso perdi muitas vendas, como apontou minha mãe em algumas ocasiões. Mas eu sou assim. Não passei tanto tempo escrevendo, pesquisando, lendo e relendo estas minhas narrativas para fazê-las o mais interessantes possíveis para ser capaz de encará-las apenas como um produto a ser vendido. Imagino que sou ingênua para o mercado editorial neste sentido. Mas gostaria de me preservar assim se puder apesar de admirar quem consegue fazê-lo. A outra parte legal da bienal são os contatos. Conheci outros autores, cada um com suas peculiaridades e experiencias dentro do mundo editorial. Conheci alguns livreiros e futuros donos de livrarias fazendo suas pesquisas. Tradutores, pesquisadores, divulgadores... uma enorme gama de gente interessante dentro de seus defeitos e qualidades que tornaram a vivencia bem mais proveitosa. Enfim, terminei a bienal feliz por ter conseguido uma experiência positiva, mesmo estando física e mentalmente exausta ao término dos dez dias. Para os que pretendem participar de bienais futuras espero que minhas experiências sirvam como um apoio apesar de que cada um tem o seu próprio ritmo, a sua própria forma de vivenciar as coisas. Apenas tenha em mente que passados os anos, o que carregamos além de nossas possíveis posses são as lembranças. Então tenha também o cuidado de se divertir durante o processo. Para os que estão se preparando, nos vemos na cidade maravilhosa!

4 comentários:

Cidinha disse...

Olá, amiga. Estava com saudades daqui. Muitas novidades e ótimo texto. Adorei! Bjos e boa semana.

Anônimo disse...

Dica Cultural: "O que é supralegal para você?" Responda e concorra a vale presente da Saraiva.
Saiba como participar em www.supralegal.wordpress.com

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Texto muito legal e muito rico, afinal uma bienal é o mundo né?! bjss

Francine Cruz disse...

Muito legal esse seu relato de experiência, serve para todos nós! Abraços e sucesso!

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