O leitor se lembrará...
Sim! Não tenha dúvida, ele se lembrará da angústia que é viver de ti escrevendo-te dia a dia. Sentindo os golpes de faca atacando um coração rançoso e jogado em um canto qualquer e ainda assim... Poucos serão os que têm a coragem de ler esta tragédia sem desfecho.
Nas manhãs, antes do alvorecer, livrarias vestidas de cinza, repletas e invadidas por aquilo que eles (leitores) não conseguem ver - o desalmar da literatura, quando prostituída pelo glamour, capitalizou a sensibilidade. A alma foi trocada pelo centavo e o zumbido distante, vinha de uma fonte invisível - o que é isso, edição feita a cascos a meio galope? Um formigueiro de obras anônimas agonizava-se na escuridão da realidade, só se conhece a humilhação na oferenda – compre meu livro, ele está aqui dentro (do peito), leve-o! Estou pronta a prostituir os meus sentimentos... Em vez disso, a sombra na estrada, trazia um livro debaixo do braço enquanto caminhava para lugar algum... Eu e tu, que para mim, tornou-se lenda mofada dentro das páginas que ninguém quer ler.
Na cama, uma enchente de ideias repensadas, formuladas com o afã do reconhecimento... A fumegante tigela do chá aguardando por mãos afoitas... Troco o chá e o resvalo de pão pelo teclado, preciso reencontrar-te em algum lugar. Quero mais e mais - não acaba nunca?
E depois a chuva a tamborilar numa cara de vidro gelado, é a vitrine do mundo, a minha é de papel... Tudo acontece após a sua janela; tudo acontece dentro das frases que construo. Se, contasse na escrita o que vi da simplicidade de uma bicicleta pelos enevoados desfiladeiros da cidade passando por árvores que incham, gotejam e brilham de umidade, seria um despautério... A sensibilidade da poesia fora substituída há muito tempo pela inutilidade literária... Iria vê-lo se espernear, gritando pela volta de minha inspiração em torno de si, precisa disso tudo para viver neste mundo inventado.
Fui ao seu enterro dias atrás, ao ver em páginas a anunciação de que não é aceito, nem tão pouco, bem vindo portal adentro das edições. A única que quer saber de ti, sou eu. Eu que não existo a não ser para construir um mundo que te faça respirar por entre as minhas palavras. O sol não nascerá para os poetas... Mataram o seu anjo da guarda e o seu sol late como um cão no quintal interior.
E agora, nas raspas da lembrança - o leitor se lembrará... Lembrar-se-á que mesmo assim, lutei para que consiga o conhecer ( meu amor, meu segredo), como eu o conheço.
O leitor se lembrará que um dia escreveram no muro que separava o escritor louco com amor platônico da sua estante. Era um muro alto de espessura grossa, o qual se temia em derrubar; arrancar com as unhas o que separa o peixe de seu habitat natural.
O coração precisa bater. O muro não deixa, quer matar o iniciante sem fama - um feto abortado que não pediu para nascer. Veio assim ao útero da mãe com um dom a nutrir, sem saber ao certo, como se vender para ser aceito...
Segue a marcha da prostituição literária, contigo envolvido em todos esses percalços... Como mudar seu estilo? Pintando os cabelos de cor aceita... Como vender o escrito que revela seu corpo nu; quente; quase vivo, matando a alma ao ser trocado pelo currículo lattes? Como chegar a estante? Comendo o pão que o diabo amassou; deixando à edição, seus trocados mortos de fome, pela contemplação doce dos olhos de seus leitores...
O leitor se lembrará...
Sim, se lembrará...
Conhecerá o processo do feitio, material e imaterial de um livro, sobretudo, o espiritual que lhe guarda comigo tapando a sua boca, não grite! Não te deixo morrer...
O leitor sentirá as lágrimas das letras que choram ao ter trocado a alma sua, pela companhia sonhada e bem amada do cheiro de letra nova e terebintina. Lembrar-se-á do amor que une o escritor a ti, amor maldito... Isso ninguém conseguirá mudar! Nem mesmo o capitalismo de última hora pelo coleio de montanhas tão brancas que os olhos se sentem nus - levaram tudo que tinha entre os campos de um sonho realizado através do anoitecer da fama salpicada de ouro em bolsos fundos das empresas editoriais escravizando-se pelos míseros vinténs recebidos em troca de sua paixão por mim (anjo meu, ingrata inspiração).
O leitor se lembrará...
Lembrar-se-á que o inventor do que lhe fascina procurou por - conchas na orla do mar azul. Na orla do deserto onde o vento sopra silencioso e fica preto de repente - o luto da ciência do literato. O amado seu, aprisionado somente a sua leitura particular.
Sim, o leitor se lembrará... Hoje a liberdade de expressão permite que estas letras permaneçam no ar sem serem ameaçadas, mesmo contigo trazendo no dedo anelar, a orla dourada que vi refletida em uma fotografia. Roubaram-te de mim, antes de nascer à luz de uma edição...
Um dia ele o lerá e saberá ao menos que por um segundo desmedido, o sol esvoaça como um pássaro, as letras estarão voando e mais uma vez, de mim partirá... Um pássaro raiado de sangue em mãos que não se cansam, e depois se erguem contra o muro na dura batalha em derrubá-lo entre a morte da poesia e a vida que continua...
O leitor se lembrará... Não lerão a mim, lerão a ti, meu invento, apaixonei-me sem intenção.
Adriana Vargas de Aguiar
Texto e criação do autor, ao utilizar este texto, por favor, não se esqueça de mencionar a autoria.
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6 comentários:
Obrigado pelas palavras, obrigado pela lembrança, obrigado pelo alerta, obrigado!
Abraços
Lembranças lindas! texto lindo... podemos viajar nas ondas das palavras!
Que lindo! Belas palavras.
Beijos.
Books e Desenhos
Adriana!
Ótimo post! à luta!
Beijos
Mirze
Lembrar-me-ei!
Adriana!
Palavras bem empregadas e reflexivas.
Bem servidos estamos com sua escrita, sua paixão, sua dedicação e alerta.
Bom final de semana!
cheirinhos
Rudy
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